De acordo com a definição do Banco Mundial, uma das instituições financeiras que, à semelhança do nosso bem conhecido FMI, prospera à custa dos juros cobrados aos países pobres e em sérios apuros económicos e sociais, existem no mundo dois tipos de pobres: os que tentam sobreviver com menos de 1 dólar por dia (pobreza extrema) e os que tentam "esticar" uma verba entre 1 e 2 dólares diários (a pobreza dita moderada). A mesma instituição estima ainda que 1 bilião e 100 milhões de pessoas vivam em pobreza extrema a nível mundial e que 2 biliões e 700 milhões tenham níveis de consumo inferiores a 2 dólares diários.
Ora, de há uns tempos para cá, começaram a proliferar nos media rubricas deste tipo:
Ora, de há uns tempos para cá, começaram a proliferar nos media rubricas deste tipo:
Neste caso, as receitas divulgadas no sítio do Correio da Manhã variam entre 4 e 6 € por refeição, para 4 pessoas. Os próprios hipermercados já tinham aqui há tempos disponibilizado fichas com receitas de cozinha, e respetiva lista de ingredientes, a um custo médio de 4 € para 4 pessoas: é o caso do grupo Sonae com as suas "Receitas em Conta". Depois foi a SIC que, em março, emitiu uma reportagem sobre a campanha "Comer bem é mais barato", promovida pela Associação Portuguesa de Nutricionistas (ver aqui e aqui). Nela se divulgavam sete receitas com custo médio de 1 € por pessoa, embora o objetivo fosse sobretudo comparar o elevado preço de certos alimentos processados, dispendiosos e pouco recomendáveis para a saúde, com o baixo custo de uma refeição mais saudável.
Só que hoje tinha na minha caixa de correio o último número da revista que o Montepio Geral envia aos seus associados e foi aqui que, sem aviso, levei (também eu) um autêntico murro no estômago: então não é que quatro dos melhores chefs de cozinha portugueses, todos responsáveis por restaurantes de grande prestígio, propõem agora as "Marmitas de chef" por...1 €. A grande ironia disto é que, devido às suas especificidades e critérios de exigência, a alta cozinha prima, justamente, pelo desperdício.
In Montepio, nº 3, outono 2011 |
Mas tudo isto, claro está, foi ainda antes da apresentação pública das linhas gerais com que o próximo orçamento de estado nos quer descoser a vida. Imagino que os chefs de cozinha já devem andar atarefadíssimos a inventar receitas ainda mais em conta, isto é, de 0,50€ para baixo. E, pelo andar da coisa, daqui a um ano vamos vê-los todos a inventar receitas a custo zero...
Pelo sim pelo não fui espreitar outra vez o mapa da fome no mundo que a FAO divulga anualmente:
Fiquei mais descansada, claro: no ano passado não constávamos. Este ano, apesar das já tão numerosas "receitas por 1€/pessoa/refeição" que circulam por aí, também não devemos constar, até porqueestamos ainda muito na fase "pobreza envergonhada" e a agarrarmo-nos à ideia de que a crise é temporária e tudo isto ainda tem conserto, quanto mais não seja por "obra e graça do espírito santo, com a imprescindível ajuda da senhora de Fátima". Mas lá para 2012 somos capazes de já ter direito, pelo menos, ali àquele incipiente tom rosado, indicativo de má-nutrição abaixo dos 5% ...
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