São 20 os momentos-chave de toda a nossa vida, defende Robert Rowland-Smith no livro Uma viagem com Platão - uma leitura filosófica dos momentos que marcam uma vida (Lua de Papel, 2011). Estive a conferir a lista como quem faz um daqueles testes das revistas:
1. nascer (aconteceu num final de setembro, não fui vista nem achada, mas cá estou)
2. aprender a andar (não me lembro deste)
3. aprender a falar (e deste também não; mas ainda bem que aconteceram e foram bem sucedidos)
4. entrar na escola (o pequeno e vetusto edifício de uma só sala, rodeado por grande um recreio murado, com carteiras de madeira escura de tampo inclinado, quadro de ardósia com estrado, a régua sobre a secretária, sem percebermos muito bem o que estávamos ali a fazer e porquê...)
5. equilibrar-se na bicicleta (aprendi sozinha numa ladeira íngreme que descia do monte até cá abaixo e que depois tinha que subir a penantes com a bicicleta ao lado; foram aí umas dezenas de descidas vertiginosas até perceber que me conseguia equilibrar e pedalar ao mesmo tempo e o contentamento por ter conseguido fazê-lo sozinha; ainda hoje me lembro das dores no rabo na manhã seguinte; só vários dias depois é que me consegui voltar a sentar no selim)
6. fazer um exame (lembro-me vagamente do primeiro de todos, na 3ª classe, ainda hoje guardo o papel algures, e de como tinha que sair tudo direitinho para a Professora ficar contente comigo)
7. dar o primeiro beijo (o primeiro, a sério, foi quando andava no liceu e, como a experiência do meu parceiro era tão pouca quanto a minha, achei que a coisa estava muito sobre-valorizada; só bem mais tarde é que percebi a razão de tanto alvoroço...)
8. perder a virgindade (outro dos mitos sobre-valorizados da nossa sociedade; foi quando, onde e com quem eu escolhi mas bom, bom mesmo, só foi depois...)
9. passar no exame de condução (pago com o meu próprio dinheiro, foi como um ritual de passagem à condição de mulher independente, confirmada com o carro próprio)
10. votar pela primeira vez (teve a importância das coisas que se fazem pela primeira vez; até hoje só falhei um ato eleitoral por causa de uma gripe fortíssima que me deixou de cama uma semana: as eleições legislativas em que o PS/Sócrates obteve a maioria absoluta; quando vi os resultados, à noite, a minha intuição não me enganou: fomos de mal a pior e eu falhei esse momento crucial; não me conformei até hoje e, como as coisas estão, nunca perdoarei a mim mesma este "lapso de cidadania")
11. arranjar emprego (foi como se me tivessem aberto uma porta para o mundo - ainda que o mundo fosse só a possibilidade de sair da casa dos meus pais)
12. apaixonar-se (é empolgante, exaltante, único; é uma luz que se acende cá por dentro; é uma força que nos empurra para a frente sem hesitações; é, acima de tudo, uma perda de tempo, um inútil desperdício de energia)
13. dar o nó (não, obrigada)
14. ter filhos (agora já é tarde)
15. mudar de casa (há já algum tempo que me apetece re-fazer o «ninho» noutro sítio, mas falta-me o dinheiro para)
16. atravessar uma crise de meia-idade (estou a)
17. divorciar-se (do ato legal sei o que ouço dizer... a mim chega-me o sofrimento da separação)
18. reformar-se (a grande incógnita...)
19. viver a terceira idade (se não fosse pedir muito... sempre era melhor do que sobreviver)
20. partir com estilo (e com dignidade, isso é que era mesmo bom, assim tipo la cerise sur le gâteau)
É uma lista interessante esta que Rowland-Smith agora propõe aos seus leitores, mas eu substituiria sem hesitar alguns dos momentos que não vivi ou que não foram assim tão "chave" quanto isso - por força das circunstâncias e/ou por decisão própria - por dois ou três outros relacionados com os acasos felizes que trouxeram certas pessoas para dentro da minha vida e do meu coração e com as misteriosas coincidências que me têm possibilitado vivências imprevistas, mas ao mesmo tempo tão bonitas e, essas sim, bem marcantes... só que tenho à frente uma espécie de menir feito de testes de 10º ano...
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