Ainda por cima a empresa pública criada para assumir estes e muitos outros ativos tóxicos do BPN chama-se muito adequadamente "Paravalorem". Mais valia chamar-se "paravalhões", que é o todos nós somos por aceitarmos pagar uma coisa destas.
Definitivamente este Estado não é "pessoa de bem". Definitivamente, Duarte Lima e Vítor Baía têm razões para sorrir, de facto. É mesmo caso para dizer que, em Portugal, a desonestidade compensa. E muito.
Só que os jornais e televisões não mostraram foi esta imagem do presidencial casal a contar as moedinhas da sua magra reforma para verem quantas sardinhas podiam comprar para saborear na festa e, naturalmente, se ainda chegava para uma tigelinha de caldo verde no fim.
Vinha hoje com o café este pacote de açúcar. Ri-me para dentro, pois mais parecia um daqueles "bolinhos da sorte" de restaurante chinês.
E não é que é mesmo? Sopa de beldroegas selvagens com ovo e queijo de cabra. Umas rodelas de paio caseiro de porco preto. Um copo (ou 2) de Monte das Servas branco e muito, muito fresco, música ("Périplo" de Amélia Muge, para começar) e uma boa conversa pela noite dentro...
ou a meteorologia como formade (des)conversar sobre tudo e coisa nenhuma (acho até que não se fala verdadeiramente de outra coisa nos dias que vivemos).
Mas a verdade é que está uma calina de derreter pedras e parece que nos próximos dias não tem tendência a melhorar...
"A Kinder, gentler, philosophy of success" por Alain de Botton, ou umas quantas verdades sobre a carreira, a angústia do "sucesso", a falácia da meritocracia, etc.
Em 1953, Jean Giono imaginou a tocante história de Elzéard Bouffier, um homem que nas montanhas agrestes da Provença ocupava a sua serena solidão plantando árvores e que aos poucos foi criando uma floresta quase paradisíaca (ver aqui).
Descobri agora a curiosa história de Bernie O'Brien, um americano que vive em Pierce Country, perto de Seattle, e que, desde 2007, ocupa os seus tempos livres a salvar árvores. Literalmente. Já resgatou de abate certo mais de 500 árvores de dezenas de espécies. Com elas tem criado uma grande floresta que dá abrigo e alimento a animais tão distintos como veados, ursos, corujas, esquilos ou lontras.
Recolhe árvores que as pessoas já não querem por se terem tornado demasiado grandes ou simplesmente porque lhes apetece mudar o jardim. Não usa máquinas. Apenas pá, picareta, muita força de braços e, sobretudo, muita persistência. Respeita porém alguns critérios que considera fundamentais: têm de ter um tamanho com que ele consiga lidar sozinho, têm de caber na sua pick-up e de estar a uma distância que lhe torne possível fazer a transferência num único dia, evita as que pertencem a espécies muito invasoras e, sobretudo, tem que gostar delas logo ao primeiro olhar, da mesma forma que se simpatiza com alguém que acaba de nos ser apresentado. Ou não. Claro que muitas destas árvores não sobrevivem ao transplante mas, ainda assim, Bernie O'Brien considera que vale a pena fazer o enorme esforço de as tentar salvar.
Muitos consideram-no apenas um excêntrico. Contudo, são pessoas como ele que, com estes pequenos gestos aparentemente estranhos ou insignificantes sustêm o mundo, impedindo-o de cair no abismo.
Afinal, quem mais poderia ter acesso a informação assim tão reservada e sigilosa? Parece-me que só mesmo um super-espião... Além de que o homem se fartava de mandar sms com informação confidencial, clippings de imprensa e sei lá mais o quê... (ver aqui)
Tudo isto ainda é mais estranho porque, supostamente, se sabe (ou se pensa que se sabe) que todo este material está guardado a sete chaves e só chega às escolas momentos antes de começar o exame, em envelopes selados e transportados pela polícia, e depois abertos nas salas, diante de todos os examinandos.
Certo é que esta história levanta suspeições muito graves sobre a idoneidade de todo o sistema de avaliação. Seria pois muito bom para a credibilidade desse mesmo sistema que se conseguisse apurar a verdade. E de preferência repidamente.
No mundo dos prognósticos futebolísticos há de tudo e, pelos vistos, vale mesmo tudo. Temos até agora não um, mais dois polvos - o Manolo e o Paulo. A Ucrânia, como joga em casa, gaba os dotes divinatórios do porco Funtik e da lontra Fred. A Polónia apresenta-se a concurso com Citta, um elefante indiano. Já a Inglaterra, confia no instinto da cadela Sissi e os alemães numa vaca leiteira, Yvonne de sua graça. (Ler notícia aqui)
De Moçambique vem agora o crocodilo Quinas. E, com semelhante arcabouço, quem se atreverá a discordar dos seus vorazes prognósticos? Eu não, de certeza!
Sei é que, com tanta variedade animal, isto já parece mais um parque zoológico do que um campeonato de futebol! Deve ser também por isso que até os próprios jogadores mais carismáticos, ou os selecionadores mais empenhados, passam de bestiais a bestas num ápice (o CR7 que o diga).
Enfim, temos o zoológico, perdão, o futebol que merecemos.
Como não entender a explosiva, quase irracional euforia dos meus alunos adolescentes se, chegado este dia, bem lá no fundo, até eu me sinto também um pouco assim...
enquanto outras vezes mais parece um daqueles empolgantes episódios da famosa série americana criada por Rod Sterling em 1959 e que dava pelo nome The Twilight Zone e que passou por cá com o título de "A Quinta Dimensão":
Há mais de 50 anos que se realizam (ver aqui). Parece até que, quanto mais anacrónicos, mais adeptos têm. Mas enfim, cumpra-se a "tradição" pois para muita gente, apesar de tudo, ainda vale a pena viver a ilusão de que poderá ser para sempre. Depois logo se resolve...
Ou seja, além do que já disse sobre nós todos, este fulano ainda tem a lata de vir agora dar o dito por não dito, aproveitando a excelente oportunidade para nos chamar também burros: afinal, nós é que não percebemos o que ele queria dizer quando disse o que disse (aqui). Aliás, como é que nós teríamos capacidade para acompanhar os elaborados raciocínios de uma mente tão brilhante como esta?! E é este o "conselheiro" do governo?!
Pois a mim, parece-me que ele tem muito mais jeito para ser o "bobo da corte", mas enfim... É que bitaites destesaté eu sei mandar! E por bem menos dinheiro (afinal, o meu salário de um mês inteiro é inferior ao que o homem ganha num único dia).
Apesar de tudo, ainda bem que não ficou calado. Agora, ao menos, já não podemos alegar que não sabíamos que era assim ou que pensava assim, etc, etc... os argumentos de treta do costume.
faz sentido no 10 de junho, mas a celebração do 10 de junho faz ainda mais sentido quando passa pela palavra frontal e verdadeira, aquela que incomoda e deixa um sorriso amarelo em alguns rostos, aquela que, procurando assentar firmemente os pés na realidade, não tem medo do sonho, nem da poesia. Afinal, assim, ainda faz sentido celebrar o 10 de junho!
Observ. - Claro que é impossível não notar a informação em rodapé dizendo que "Berlim saúda pedido de ajuda do governo de Madrid". "Saudar" o alastramento preocupante de uma crise financeira que ameaça colapsar a Europa tal como a conhecemos? Berlim, afinal, anda a fazer o quê, ou pretende o quê?
Estas palavras, que não faziam parte do discurso mas que, ironicamente, passaram em simultâneo com ele, também têm muito que se lhes diga... lá isso têm.
Feira Nacional da Agricultura de Santarém; 9 de junho; cerca das 20.30.
O primeiro jogo da seleção nacional de futebol vai a meio. Estamos num pavilhão gigantesco com dezenas de expositores de artesanato e com diversas "tasquinhas" de produtos regionais. Estão muitas centenas de pessoas lá dentro em visita aos stands e outras tantas sentadas a tentar comer qualquer coisa. Veem-se algumas pessoas com cachecóis de apoio à seleção ou com as t-shirts vermelhas da equipa.
De repente, há um frémito qualquer no ar e, no segundo imediato, um grito de alegria coletiva sobrepõe-se sem dificuldade ao barulho quase ensurdecedor do pavilhão: gooolo! foi goolo!. Logo se percebe que havia nas pessoas que por ali passeavam ou petiscavam uma ansiedade mal contida que extravasou à primeira oportunidade, mesmo sem ninguém perceber muito bem o porquê. Muita gente ergue o braço no ar enquanto grita "gooolo!", assumindo orgulhosamente o seu fervor futebolístico. Há então olhares cúmplices que se cruzam entre os comensais das muitas mesas, sorrisos abertos numa alegria exultante e genuína que adoçam os rostos até aí indiferentes. De repente, sente-se como que uma proximidade entre pessoas que nunca antes se tinham cruzado e nunca se voltarão a cruzar: foi golo!
Contudo, não há no pavilhão um único aparelho de televisão à vista e muitos querem agora saber mais detalhes: quem marcou? quantos golos há? quanto tempo falta para o fim do jogo? Logo os telemóveis iniciam um frenesim de sms e chamadas.
Vem depois a notícia de que o golo, afinal, tinha sido alemão e, pior, que Portugal está a perder o jogo. Apesar do barulho ambiente, ouvem-se ainda pedaços de frases: ainda falta a segunda parte! Vamos ganhar, então?!
Mais tarde alguns dos que, presentes naquele pavilhão e mantendo firme a sua crença na seleção nacional - mesmo depois de terem engolido em seco por causa do tal golo festejado ao engano -, conhecedores já do humilhante desfecho do jogo, começam realmente a ficar furiosos. Sentem-se agora ludibriados: tanta coisa para, afinal, não haver nem um único golo marcado. Logo chovem críticas ao CR & Cª Lda., ao treinador e ao festival de imbecilidades que tem decorrido nos últimos tempos à volta e a (des)propósito da seleção nacional. Por fim, ouve-se falar da má-sorte, essa maldita que não nos larga o espinhaço. Claro, na vida é tudo uma questão de sorte!
E é aí que eu já não aguento mais e me preparo para lançar uma carrada de violentos impropérios a propósito de uma gente que, por dar uns pontapés na bola e ganhar milhões, logo é encarada como uma espécie de salvação da pátria, mas que não passa de um grupo de golden boys mimados que é, em tudo, igual ao país que temos: muita parra e pouca uva. Alienação pura. Delírio e demência coletiva!
Mas de repente percebo que o argumento da sorte, ou melhor, da falta dela, mais não é do que a deixa para voltar a acreditar como se não houvesse amanhã que vamos ganhar o campeonato da bola lá na Polónia. No fundo, a deixa para voltar a ter esperança. Ora, é justamente isso que mais nos falta por estes dias que vivemos: esperança e capacidade de acreditar que é possível sair do buraco em que nos encontramos com os políticos e governantes que temos.Talvez o futebol e a seleção nacional sejam mesmo isso: a capacidade de acreditar no inacreditável.
Calo-me: quem sou eu para desfazer a única esperança possível para tanta gente? O tempo, isto é, os resultados dos jogos, se encarregará de o fazer.
A construção civil e as grandes obras públicas são, em Portugal, um tema sempre muito atual. Ou não tivessem sido elas a impulsionar artificialmente a economia e o emprego nos últimos anos, com os resultados conhecidos. Muitas mais (e bem grandes) obras públicas estavam planeadas, mas a crise forçou uma mudança de rumo.
Sobre as obras - públicas ou não - e os diversos "vícios" que as costumam caracterizar é frequente aparecerem na rede imagens-metáfora muito óbvias e também muito críticas, como estas, por exemplo:
Mas a verdade é que, no que às obras públicas diz respeito, esta é só mesmo a pequena ponta do icebergue. O maior problema das obras públicas está uns níveis acima na pirâmide hierárquica... Nota: a reportagem "A Herança" inicia-se ao minuto 20:47 deste vídeo e merece bem ser vista com atenção...
Estão indignados os moços e vieram fazer queixas na imprensa!. E percebe-se: foram enfiados numa espelunca qualquer lá nos fundos da Polónia e nós por cá a criticá-los quando eles, afinal, nem sequer têm direito a sexo, álcool, tabaco, saídas ou uso de redes sociais, como a seleção da Alemanha. Não há direito, de facto. Até porque lá diz o velho ditado popular: ou comem todos ou não há moralidade. Tadinhos dos moços! Com tanta abstinência, ainda arranjam mas é alguma lesão no pulso ou algo assim do género...
Há pois que reconhecer a justeza das suas pretensões! Por isso, que tal fazer uma manifestaçãozinha já no próximo sábado frente à porta do balneário da seleção alemã? ou um flash mob no estádio durante o intervalo do jogo?
Ah, e quanto às bandeiras, lamento informar mas eu cá não enfio a carapuça...
Ou, como monologava Segismundo, na sua Jornada segunda, (cena XIX) de La vida es
sueño, de Calderón de la Barca:
¿Qué es la vida? Un
frenesí, ¿Qué es la vida? Una
ilusión, una sombra, una
ficción, y el mayor bien es
pequeño: que toda la vida es
sueño, y los sueños, sueños
son.
Há já muito tempo que o Sr. Borges é lança-bitaites de serviço em debates televisivos e "análises telejornalísticas" à situação do país. E tem sempre umas ideias muito vastas de como governar o país, de como melhorar a economia e a competitividade...etc, etc. Aliás, estranho é que, com tão vastas ideias sobre estas matérias, não seja já, e em simultâneo, primeiro-ministro e ministro da economia e finanças, caramba, que o homem é para lá de bom!... Ainda por cima andou lá por fora, coisa e tal... algo que, em Portugal, continua a ser uma excelente carta de recomendação, sobretudo quando se tem amigos influentes no(s) partidos do tal "arco do poder". Ora, o Sr. Borges tem isto tudo. Logo, só podia estar onde está.
Estranho seria pois se, agora que o psd está no governo, este lança-bitaites de alta cilindrada não tivesse direito a uma fatia do bolo. Podia lá ser! Vai daí, convida-se o homem para mandar bitaites sobre as privatizações da Parpública, bem como para fazer consultadoria ao Governo (seja lá isso o que for) e, porque o homem é mesmo muita bom, pode até acumular com funções na Fundação Champalimaud e no Grupo Jerónimo Martins, no qual ocupa uma posição de administrador não-executivo, e sabe-se lá que mais. Mais ninguém pode acumular funções, mas o sr. Borges tem até o beneplácito do primeiro-ministro para o fazer porque é mesmo muita bom, pronto! (ver aqui). Como tal, tem direito a auferir várias dezenas de milhares de euros mensais - para além de outras mordomias - num país em que o salário mínimo não chega aos 500€. E qual é o primeiro bitaite que o homem lança bem alto para todos ouvirem, assim logo às primeiras? Pois que se baixem os salários! Obviamente, os dos outros, que o dele é de outra dimensão (ler aqui), ou não fosse ele o sr. Borges!
Como é que se juntam todas as peças deste puzzle? O mais provável é que ninguém venha a descobrir ao certo todas as peças necessárias para o conseguir. Mas, por outro lado, só estas já são suficientes para perceber o verdadeiro calibre do figurão e como, afinal, até nem é assim tão misterioso quanto isso...
Sobre a relevância de tal facto para a minha vida - aliás, para a vida de todos nós - é melhor nem falar...
Mas, por outro lado, observando as imagens, quer-me parecer que este autêntico desfile de bólides mais não é do que a versão endinheirada e «à jogador da bola» daquele velho campeonato da infância (mas que, para muitos homens, se prolonga pela vida toda) do «vamos lá a ver quem é que tem a pila maior». E, a julgar pelo tamanho e preço dos bólides fotografados, ninguém aqui queria ficar em segundo lugar.
Esta questão do almoço de negócios entre o super-espião e o político ambicioso acabou por me reavivar a memória de um texto com que me deliciei nos idos de 90 e que, ainda hoje, mantém uma estranha atualidade. Be, talvez não tão estranha assim. Afinal, estamos em Portugal... Nele, o holandês Gerrit Komrij retrata, com um apuradíssimo sentido de humor, os tiques lusos. O livro abre com o texto que lhe dá o título, justamente, “Um almoço de negócios em Sintra” (Lx: Ed. Asa, 1999, 2ª ed).
É esta autêntica instituição nacional – o almoço de negócios - que está por detrás de todas as decisões das mais relevantes, às mais insignificantes:
“Com docilidade, dirigimo-nos ao ritual que, do meio-dia às quatro, se apodera de Portugal inteiro. O almoço de negócios.
Um almoço de negócios em Portugal é uma comezaina de cinco pratos diariamente repetida, que precede outra quase idêntica – essa, das sete ás onze da noite -, em que o último prato apresenta o atractivo de com ele se nos varrer totalmente da ideia o género de negócios que nos levara a reunir-nos. E, tendo, por hipótese, sido nossa intenção juntar, no desfecho da sobremesa, persistência suficiente para vender três cabras, está mais que escrito que, após o golpe de misericórdia do café e aguardente, verificaremos ter acabado de comprar sete burros.” (p. 7-8)
Toda esta história, ainda muito mal contada, seria sobretudo ridícula se não fosse tão grotesca. Assim, dá-nos sobretudo um fiel retrato da “gente” que nos (des)governa.