Max Ernst: Mer et soleil, 1925; óleo s/ tela |
antes,
era o tempo de ouvir o teu nome em todos os nomes iguais ao teu
(e pareciam ser quase todos)
o tempo de entrever reflexos do teu em todos os rostos
(e pareciam ser inúmeros) nos lugares que também foram os nossos
o tempo de, instintivamente, localizar à beira das estradas as placas
(e pareciam ser tantas) com o nome do lugar onde vivias,
sem sequer as procurar com o olhar, e elas ali,
como se me esperassem, só para confirmar
que todos os meus caminhos iam dar a ti
agora,
é chegado o tempo de continuar a conduzir
sem olhar para os lados e, sobretudo, sem nunca parar,
para fazer de conta que nada disso teve qualquer importância
o tempo de fingir que o tempo antes não existiu
para evitar a certeza de um equívoco
demasiado grande para ser suportável
a seguir,
virá ainda um tempo lento (inevitável, dizem
necessário, acrescentam) em que tudo
começará a ficar entorpecido na memória
e será o tempo em que aprenderei o granítico estoicismo das pedras
só depois
virá esse tempo já sem tempo que é o do esquecimento
em que não saberei o teu nome, não reconhecerei o teu rosto e
não distinguirei na estrada as placas com o nome do lugar onde vivias
e, de todos os tempos, será este o mais doloroso
2 comentários:
a qualidade a que já nos vai habituando
_ muita
Platero, estou ciente de que a qualidade é duvidosa, sobretudo numa terra de tantos e tão bons poetas, mas enfim. Obg à mesma.
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