Os mais recentes dados do Eurobarómetro confirmam que, no espaço de um ano, os níveis de confiança dos portugueses no funcionamento da democracia, nas instituições e no próprio futuro cairam a pique:
- Em Maio de 2009, 60% dos portugueses não confiavam no governo; em 2010, são já 76 %;
- É já de 67 % a taxa dos que manifestam desconfiança em relação ao parlamento quando, em 2009, eram 50%;
- Quanto aos partidos políticos agravou-se claramente a taxa de desconfiança de 2009: de 72% subiu para 82%.
- Insatisfeitos com o funcionamento da democracia no nosso país estão agora 69% dos portugueses (em 2009 eram 57%).
- Quanto à evolução da situação do país nos próximos doze meses 55% acredita agora que vai piorar (eram 32% no ano passado) e 26% acha que tudo vai ficar na mesma, contra os 41% que, em 2009, assim pensavam.
Contrariando aquilo que é mais habitual em termos estatísticos, estes números colocam-nos nos lugares cimeiros da tabela, muito à frente da maioria dos europeus. Embora sejam muito recentes, são anteriores à aprovação do PEC III e, claro, do OE para 2011, o que significa que os próximos estarão a bater mesmo no fundo.
São vários os sociólogos que, face aos números agora divulgados, advertem para a pressão social que se está a acumular e que pode ter consequências imprevisíveis. Alguns referem estranheza perante o silêncio e a quietude das ruas durante a greve geral, apesar da evidente mobilização da população e alertam para a possibilidade de se desencadearem focos de violência colectiva, à semelhança do que aconteceu na Grécia e noutros países.
Outros, pelo contrário, referem que a histórica passividade e impassibilidade do povo português impedirão a eclosão de violência nas ruas e julgam que o descontentamento se manifestará sobretudo nas urnas e apontam como exemplo outros estudos de opinião reveladores de que os portugueses são dos que têm os mais baixos níveis de participação política. Uns quantos reforçam esta ideia acrescentando ainda um outro argumento: o de que uma população fragilizada e empobrecida – como idosos de baixos rendimentos ou desempregados de longa duração – não dispõe dos recursos materiais e culturais necessários para desencadear uma (re)acção colectiva. Acresce a tudo isto uma cultura de cidadania muito incipiente e passiva. No entanto, poucos duvidam de que a cada vez maior desigualdade social entre ricos e pobres e o agravamento constante da situação económica dos mais atingidos pela crise podem vir a constituir um rastilho para protestos violentos. A reforçar esta perspectiva o medo que tem servido de travão ao protesto de muitos portugueses em situações laborais muito precárias (mais de um milhão), mas que se pode transformar em revolta se pensarmos que o pior da crise ainda está para vir.
Vamos ver o que dá tudo isto. Em janeiro, com a entrada em vigor das violentas medidas de contenção da despesa pública para a esmagadora maioria de todos nós (há uns quantos que manterão as mordomias, claro está), iniciar-se-á uma espécie de contagem decrescente para vermos então o que e até onde aguenta esta autêntica 'panela de pressão social'.
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