segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

E porque estamos ainda a iniciar viagem neste recém inaugurado ano

Oração para aviadores
 
Santa Clara, clareai
Estes ares.
Dai-nos ventos regulares,
De feição.
Estes mares, estes ares
Clareai.

Santa Clara, dai-nos sol.
Se baixar a cerração,
Alumiai
Meus olhos na cerração.
Estes montes e horizontes
Clareai.

Santa Clara, no mau tempo
Sustentai
nossas asas.
A salvo de árvores, casas
E penedos, nossas asas
Governai.

Santa Clara, clareai.
Afastai
Todo risco.
Por amor de S. Francisco,
vosso mestre, nosso pai,
Santa Clara, todo risco
Dissipai.

Santa Clara, clareai.

Manuel Bandeira

PS (de post scriptum, claro!) - Nem de propósito, este poema-oração de Manuel Bandeira, foi utilizado na publicidade de um banco brasileiro e, tendo em conta a actual situação de crise económica que as instituições bancárias atravessam, bem podia ser adoptado também pelas nossas, assim tipo «oração a rezar todas as manhãs, antes de inciar as operações financeiras no mercado internacional». Podia ser que resultasse onde tudo o resto tem estado a falhar...

E ao nosso primeiro-ministro que anda aí mundo fora a tentar impingir títulos da dívida portuguesa a toda gente, mas sem grandes resultados, deixo aqui a sugestão de se inspirar no estilo de um daqueles animadores da TvShop que vendem cremes mágicos, colchões medicinais e electrodomésticos fantásticos, mas que ninguém sabe muito para que servem. Claro que, na TvShop, estas coisas costumam também ter uns bónus para os primeiros dez espectadores que ligam nos dez ou quinze minutos a seguir à passagem do anúncio e, se calhar, é mesmo isso que tem faltado nas apresentações que o primeiro-ministro anda a fazer por aí... Pois então, quem sabe se com um bónus o produto não vendia melhor? Talvez uns Magalhães, desses de última geração? Ou quem sabe também umas exclusivas excursões a Fátima com tudo pago e uma «sessão especial de apresentação do produto» lá pelo meio? Em última análise, sugiro mesmo a contratação de um dos apresentadores-vendedores brasileiros da própriaTvShop. E, já agora, porque não a venda dos títulos na dita TvShop?

De qualquer modo, e a julgar pelos últimos números do crescimento da economia brasileira, oxalá  que o Brasil se decida finalmente a comprar-nos o raio dos títulos da dívida pública (e todos, de preferência!) a ver se ficamos transformados numa espécie de «delegação europeia» da grande potência mundial em que o país dito irmão se está a transformar. E até ficava tudo em «família» pô... Até lá, claro, faço minhas as palavras do poeta: «Santa Clara, clareai.»


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