Algumas – muito poucas - das pequenas peças do puzzle inconjunto dos pensamentos e dos dias ajustam-se quase sem esforço, como se estivessem magnetizadas. As outras, porém, dão voltas e voltas, mas não encontram encaixe possível e andam por ali a embaraçar a composição do próprio puzzle. Às tantas, com a frustração e o cansaço chegam as dúvidas e as interrogoções: serão peças extraviadas ou perdidas de outros puzzles, de outros pensamentos e de outros dias? E o que fazer com elas? Ignorá-las? Esquecê-las? Rejeitá-las? Mas como, se elas, de facto, estão ali e reclamam um lugar a que, por natureza, têm direito? Mas como, se teimosamente elas insistem em procurar o seu lugar, mesmo sabendo até que nunca houve, nem haverá, tal encaixe no puzzle inconjunto dos pensamentos e dos dias.
À medida que os anos passam e nos vemos confrontados com cada vez mais peças soltas, percebemos que, afinal, o tal puzzle dos pensamentos e dos dias é inconjunto justamente por ser feito de peças impossíveis de encaixar umas nas outras. Percebemos que, afinal, é feito sobretudo de tentativas infrutíferas. Percebemos que, afinal, não é apenas inconjunto, é essencialmente inútil e absurdo. Suponho que ser feliz poderá ser algo como conseguir mandar não apenas as peças soltas, mas todo o puzzle dos pensamentos às urtigas e ficar apenas com o dos dias, sem mais nada à volta. Assim algo próximo daquilo que os sábios clássicos designavam "carpe diem".
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