caminho até ao fim da rua onde uma esquina se dobra para me deixar passar e prossigo, ladeada por paredes brancas com molduras cinzentas ou de tom ocre, aqui e ali com um tom azul que desafia o céu ainda límpido a esta hora, viro à direita dobrando outra esquina e depois avanço pela rua que se abre à minha frente, tão estreita que as paredes parecem afastar-se à minha passagem
desemboco noutra rua tão vazia de gente como a anterior, o som dos passos no chão de granito atira-se contra as paredes, faz ricochete e volta para trás atingindo-me os ouvidos, é então que a rua estreita se inclina ligeiramente e desce como o leito pedregoso de um ribeiro onde há muito já não corre água
de repente, as paredes afastam-se e a rua sinuosa desagua num pequeno largo inundado de sol poente, mas também aqui não pulsa nenhum coração, páro um instante como quem hesita, escolho a rua que fica mais à direita e prossigo, viro depois à esquerda e continuo até voltar de novo para a direita, continuo sempre a andar e, quando a noite chega de mansinho, nestas ruas estreitas, mais do que os candeeiros, é a brancura das paredes que nos ilumina os passos
percebo que posso continuar assim, dobrando esquinas noite e dia até à eternidade, sem nunca conseguir chegar a lugar algum, percebo que tudo se reduz, afinal, a este labirinto vazio do qual não há saída e que nada mais existe para além do caminho e do próprio caminhar
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