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Daquela grande oliveira, a maior do jardim, apenas se sabe que é velha, mesmo muito velha. O tronco carcomido mais parece uma carcaça abandonada por algum predador há muito saciado. Que a seiva ainda consiga trepar pela casca áspera e acinzentada até alcançar as folhas miúdas da copa é quase inexplicável. Esta copa que parece jorrar do tronco vazio como um spray verde e viçoso é, aliás, o único sinal de que continua bem viva. Afirmam agora que é milenar mas a velha árvore, disso, nada sabe. Impassível, perdeu a conta às gerações que, em tempos idos, lhe anelaram o tronco e às vezes que o mundo já desabou e se reergueu à sua volta.
Talvez o segredo da sua longevidade esteja justamente nesse esquecimento de si mesma, pois sem memória não há passado, apenas o presente possível em cada dia que passa, como se cada um desses dias que se vão sucedendo fosse o primeiro de todos os que hão-de vir depois. Só o vento que lhe atravessa às vezes o tronco esfarrapado e lhe faz cócegas por dentro perturba a invejável quietude silenciosa com que desafia a própria eternidade. E assim continuará, majestosa e messiânica ao mesmo tempo, bem no meio do jardim, muitas gerações depois de eu ter partido.
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