Também eu, olhando no espelho o curso apressado do "rio sem margens", pergunto muitas vezes ao tempo «quanto tempo o meu tempo tem?». Mas ele, impassível, responde sempre da mesma forma: «não sei». E logo busco a fraca consolação da lapalissiana verdade - «o melhor é aproveitar enquanto há» - para tentar abafar a voz esganiçada que, lá bem no fundo, remata em tom sarcástico: «certo é que já perdeste demasiado tempo».
Contudo, a única certeza que o tempo me deu até agora é a de que o meu tempo não me dará sequer tempo para ter tempo. Nem o tempo breve de um único poema.
Aurai-je le temps de voir la nuit
Aurai-je le temps de voir le jour
Aurai-je le temps de voir la fin du monde
Aurai-je le temps de tout voir
Et d'avoir le temps
Pierre Albert-Birot, Invitation aux voyages,
B.T.,n 84,1976
Nem sequer o tempo enfeitiçado de uma canção insolente.
E ainda assim, de forma paradoxal, canto baixinho em frente ao espelho: "je l'aime tant ce temps qui reste..."
Sem comentários:
Enviar um comentário