Realizado em 1929 por Dziga Vertov este filme-documentário do quotidiano russo, lembra-nos que a câmara (de filmar ou fotográfica) não mudou o mundo mas mudou, e muito, a nossa maneira de ver e de pensar esse mesmo mundo. O "olho da câmara" é, afinal, o olho do homem que observa a realidade e os outros à sua volta.
sábado, 31 de março de 2012
A Primavera
Clude Monet: The Bodmer Oak (Fontainebleau), 1865, óleo s/ tela |
Oh Primavera do meu país,
Tempo de encanto sereno e límpido
Que dás ao campo as cores do verde
O verde puríssimo da erva nova.
És tu que trazes, oh Primavera,
A força indomável dos ramos jovens
O viço e o verde da fresca folhagem
Da velha tília no arroio debruçada.
És tu que fazes, oh Primavera,
Pular aa truta na água do rio
O javali fugir na funda ravina
Pelos caminhos da desolação
O veado erguer-se altivo e só
Na penha mais nobre das fragas altíssimas
Olhando as crias de fulva pelagem
Correr e saltar no prado macio.
És tu que fazes, oh Primavera,
Crescer as bagas na ramaria
Pender os frutos nas árvores frondosas
Cintilar os peixes na água do lago.
Bela é a cor, oh Primavera,
Do lírio branco que fazes nascer
E suave o múrmúrio, oh Primavera,
Do regato de prata a correr no vale.
Autor desconhecido (séc. XII), in A Perfeita Harmonia – Poemas celtas da natureza,
Trad. José Domingos Morais, Lx: Assírio e Alvim, 2004
sexta-feira, 30 de março de 2012
quinta-feira, 29 de março de 2012
Epílogo
Algures lá pelo final de vários anos de relação é que percebeu que não tinha propriamente um parceiro, mas sim o usufruto de uma espécie de fração de condóminas.
Terminou tudo no mesmo instante pois sempre detestara reuniões de condomínio. Procura agora uma moradia isolada, em sítio tranquilo.
Terminou tudo no mesmo instante pois sempre detestara reuniões de condomínio. Procura agora uma moradia isolada, em sítio tranquilo.
É preciso com-bater as notícias
"menos positivas", dizem eles... E, a julgar pelas imagens de todos conhecidas, eu diria que tal com-bate está a correr bastante bem...
Ler notícia aqui |
quarta-feira, 28 de março de 2012
"Pílulas"
de e para Millôr Fernandes
O dinheiro não é só facilmente dobrável como dobra facilmente qualquer um.
O pior não é morrer. É não poder espantar as moscas.
A gente só morre uma vez. Mas é para sempre.
Bem-aventurados os filhos dos ricos porque eles herdarão o reino dos seus.
O pior das dificuldades económicas é acontecerem exactamente quando a gente está sem dinheiro.
O pior é que essa gente toda já está com rigidez cadavérica antes de morrer.
Sim, irmão, nas relações entre o homem e a mulher, o que mais conta é o que não se pode contar.
É mais fácil um rico entrar no reino do céu do que um pobre entrar na casa de um rico.
A melhor maneira de manter a linha é ser gordo de nascença.
O sol acorda sempre bem disposto porque não faz vida nocturna.
Todo o dia de manhã a gente se levanta e sai de casa. Até chegar o dia em que a gente sai de casa sem se levantar.
E se o sono eterno for a insónia eterna?
A prova de que a vida moderna é muito mais saudável do que a que levavam os nossos antepassados é esta: nós estamos aqui, vivinhos, e eles já morreram todos.
Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus.
In, Pif-Paf, Lx: Edição de "O Independente", 2004
O dinheiro não é só facilmente dobrável como dobra facilmente qualquer um.
O pior não é morrer. É não poder espantar as moscas.
A gente só morre uma vez. Mas é para sempre.
Bem-aventurados os filhos dos ricos porque eles herdarão o reino dos seus.
O pior das dificuldades económicas é acontecerem exactamente quando a gente está sem dinheiro.
O pior é que essa gente toda já está com rigidez cadavérica antes de morrer.
Sim, irmão, nas relações entre o homem e a mulher, o que mais conta é o que não se pode contar.
É mais fácil um rico entrar no reino do céu do que um pobre entrar na casa de um rico.
A melhor maneira de manter a linha é ser gordo de nascença.
O sol acorda sempre bem disposto porque não faz vida nocturna.
Todo o dia de manhã a gente se levanta e sai de casa. Até chegar o dia em que a gente sai de casa sem se levantar.
E se o sono eterno for a insónia eterna?
A prova de que a vida moderna é muito mais saudável do que a que levavam os nossos antepassados é esta: nós estamos aqui, vivinhos, e eles já morreram todos.
Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus.
In, Pif-Paf, Lx: Edição de "O Independente", 2004
terça-feira, 27 de março de 2012
O justo equilíbrio
Entre muros
tijolos vermelhos, tijolos vermelhos
espalmado
Fresta longínqua
oblíqua
Regatos, regatos
entre campos
labirinto
O azul do céu encandeia
O azul do céu encandeia
e o amarelo das flores aflige
realidade naïve
perspectivas deformadas
formas incontroladas
tudo parece fora do sítio
a despropósito
Orgia de cores
obcecante
irritante
Desespero
de não encontrar o justo equílibrio
Adolfo Luxúria Canibal, In Estilhaços e Cesariny,
Assírio e Alvim - Fundação Cupertino de Miranda, 2011
tijolos vermelhos, tijolos vermelhos
espalmado
Fresta longínqua
oblíqua
Regatos, regatos
entre campos
labirinto
O azul do céu encandeia
O azul do céu encandeia
e o amarelo das flores aflige
realidade naïve
perspectivas deformadas
formas incontroladas
tudo parece fora do sítio
a despropósito
Orgia de cores
obcecante
irritante
Desespero
de não encontrar o justo equílibrio
Adolfo Luxúria Canibal, In Estilhaços e Cesariny,
Assírio e Alvim - Fundação Cupertino de Miranda, 2011
11 mil metros de profundidade
Um mergulho longo, uma descida empolgante, decerto. Mas não deixa de ser irónico que as grandes odisseias que restam no planeta sejam todas em direção ao fundo...
segunda-feira, 26 de março de 2012
No fim de contas...
domingo, 25 de março de 2012
Apontamentos de um discurso risível
Tantas foram as pérolas do discurso final do primeiro-ministro no congresso do PSD, que até se tornou difícil escolher apenas algumas:
- "Não há uns que possam mais e outros que possam menos',
- "queremos acabar com os sectores mais protegidos da economia";
- "todos têm que dar o seu contributo para a recuperação do país",
- "Eu vou dizer outra vez: não há exceções nos cortes. Sejam trabalhadores ou administradores, da TAP ou da CGD, não terão 13º e 14º mês".
- o desemprego "é a maior chaga e ultrapassou todas as previsões que fizemos"
- and so on, and so forth
Salvou-se esta: "não é Estado que cria emprego. Vamos falar verdade. O emprego só virá da retoma económica". Pois, já tínhamos percebido que o problema é justamente, este e que, para o resolver, também o governo não tem soluções: apenas medidas de austeridade.
E, como grand finale, terminou com um empolgado:"os sacrifícios não são em vão". (Ler artigo completo aqui)
Foi de tal maneira engraçado o discurso - para já não falar das expressões faciais dos congressistas a escutá-lo - que, desde a hora de almoço, tenho estado a fazer concorrência ao Magnífico Muttley, isto é, a rir sem parar. Valha-me ao menos isso, que tanta demagogia junta dá mas é vontade de chorar, e muito.
Foi de tal maneira engraçado o discurso - para já não falar das expressões faciais dos congressistas a escutá-lo - que, desde a hora de almoço, tenho estado a fazer concorrência ao Magnífico Muttley, isto é, a rir sem parar. Valha-me ao menos isso, que tanta demagogia junta dá mas é vontade de chorar, e muito.
Coisas que me abespinham, encanitam e irritam - XIII
Touradas em geral, e por supostos motivos de beneficência em particular.
Esta tarde havia uma no "Coliseu" de Elvas a favor dos bombeiros. Casa cheia, claro. Os automóveis extravasaram do parque de estacionamento e invadiram bermas e ruas adjacentes, dificultando a circulação à entrada da cidade. Enfim, nada como um bom banho de sangue para entusiasmar o povinho e facilitar a abertura dos cordões à bolsa. E como forma de solidariedade social, então, passa uma mensagem excelente.
Mas, claro, é a tradição. Cumpra-se, portanto, o sacrifício estúpido do touro para gáudio dos homens. O diabo é se começamos a descobrir novas tradições antigas... Como esta, por exemplo.
sábado, 24 de março de 2012
sexta-feira, 23 de março de 2012
Canção da chuva grande
(que não há meio de querer chover)
No dia da chuva grande, mãe,
quero sair para a rua
pulando e cantando
com o coração a bailar de alegria.
No dia da chuva grande, mãe,
de pés nus e roupa molhada
quero sair para a rua
fazendo coro com os meninos
que guardam o sol no olhar.
Jofre Rocha, In 60 Canções de Amor e Luta,
Ed. ASA para a União dos Escritores Angolanos, 1988
Gregory Thielker: Above Below, pintura da série "Under the unminding sky" (imagem daqui) |
No dia da chuva grande, mãe,
quero sair para a rua
pulando e cantando
com o coração a bailar de alegria.
No dia da chuva grande, mãe,
de pés nus e roupa molhada
quero sair para a rua
fazendo coro com os meninos
que guardam o sol no olhar.
Jofre Rocha, In 60 Canções de Amor e Luta,
Ed. ASA para a União dos Escritores Angolanos, 1988
Ponto da situação
Ou como, numa frase, se resume (quase) tudo.
E, claro, porrada neles, e muita! Ora não querem lá ver o raio do povo agora armado em parvo, a manifestar nas ruas o seu descontentamento? Era o que faltava! Ainda por cima com jornalistas a ver!
Hugo Correia/Reuters Ler notícia aqui |
quinta-feira, 22 de março de 2012
Bode expiatório precisa-se
Na primeira versão desta estória pouco edificante do défice das contas públicas, sempre nos tem sido re-afirmado que os vilões são os funcionários públicos. E porquê? São demasiados, dizem, trabalham pouco e pesam muito no orçamento do estado. Além disso, têm imensíssimas regalias... Encontrado o bode expiatório perfeito, e com o beneplácito da troika, cortou-se a direito na função pública. E onde? Na educação, na cultura, na saúde e nos apoios sociais aos mais carenciados (idosos, crianças). E os bons resultados desta estratégia aí estão bem à vista de todos: apenas nestes dois primeiros meses do ano o estado já poupou qualquer coisa como 133 milhões de euros (ver aqui) só em remunerações. Sobre a eficácia dos serviços (só nos hospitais do SNS há agora qualquer coisa como 175 mil doentes em lista de espera para uma cirurgia) ou a qualidade de vida dos cidadãos nem vale a pena falar até porque isso, agora, não interessa nada. Pelo menos ao estado.
Contudo, o défice das contas públicas não tem diminuido. Bem pelo contrário. Só em fevereiro, já cresceu quase três vezes, em comparação com o mesmo mês do ano passado. E agora, como é? Quem é, afinal, o responsável por esta situação? Novamente a função pública? Isto porque a hipótese de considerarmos como certa a incompetência de quem tem gerido o dinheiro dos nossos impostos e agirmos em conformidade ainda é impensável no nosso país, o que é de lamentar.
Há que arranjar, pois, um novo bode expiatório, portanto. Aliás, ao ritmo a que isto vai, um rebanho inteiro. É que o da função pública já está quase moribundo e dificilmente conseguirá aguentar a expiação de mais pecados alheios. Está, assim, aberto o casting e o primeiro candidato já apareceu - a RTP -, com umas despesas "extraordinárias" e que, ainda por cima, não estavam "previstas para o início do ano" (ler notícia aqui). Imagine-se! A mim, tal candidato não convence. Porém, até se encontrar um melhor, lá terá que servir o velho bode moribundo. Que remédio! Até porque alguém terá que pagar mais esta conta, lá isso é verdade!
Nota: o funcionalismo público não é diferente de qualquer outro setor económico. Há lá de tudo: bom, mau e assim-assim. Só é pena que não se consiga fazer a distinção, mas também não interessa muito que tal aconteça. Compreende-se: se distinguirmos os melhores, os piores dão mais nas vistas!
quarta-feira, 21 de março de 2012
Da poesia são todos os dias, incluindo o de hoje
Fernando Pessoa - Plural como o Universo, Fundação Calouste Gulbenkian, 21/3/2012 |
Fernando Pessoa - Plural como o Universo, Fundação Calouste Gulbenkian, 21/3/2012 |
Fernando Pessoa - Plural como o Universo, Fundação Calouste Gulbenkian, 21/3/2012 |
Fernando Pessoa - Plural como o Universo, Fundação Calouste Gulbenkian, 21/3/2012 |
terça-feira, 20 de março de 2012
Equinócio da primavera
Jovem colhendo flores, século I d.C. Detalhe da pintura mural de Stabiae Museu Arqueológico Nacional, Nápoles |
Da noite a aragem tépida refrescando vem
surpreender as luzes que, interiores, se apagam
lentamente, uma após outra, como em madrugada
ao longe as luzes de outra margem - rio
descido pelas águas tenuamente crespas,
sombras passando, e escorre matutina,
ainda sem brilho, a vibração das águas,
enquanto rósea apenas de uma aurora ausente
a crista das montanhas reverdece.
Por sobre a plácida e pensante aragem física
das violações diurnas, de amarguras,
vilezas vistas e traições sonhadas,
notícias de jornal e desafios,
guerra iminente ou, mais que dolorosa,
cravada nas imagens de uma paz sombria,
perpassa a noite véus de primavera,
glicínias que amanhã estarão floridas,
e folhas verdes, muito frágeis, tenras,
e o azular-se o mar, o distanciar-se o céu
na crua luz que juvenis sorrisos,
braços ligeiros de alegria funda,
devora lentamente, e as rugas ficam...
- ao longe as luzes de outra margem, rio
onde a noite se esconde até à morte.
15/3/1947
Jorge de Sena in Pedra Filosofal, 1950
segunda-feira, 19 de março de 2012
Pai
domingo, 18 de março de 2012
SOS / SNS
São cada vez mais notórias as crescentes dificuldades económicas do Serviço Nacional de Saúde: há hospitais a pedir compressas emprestadas para poderem fazer as cirurgias marcadas (ler notícia aqui), a darem altas precoces a doentes ainda em estado muito grave, até à impensável indignidade que é a recusa de tratamento a uma doente oncológica (ler notícia aqui).
Estes são sinais muito preocupantes e graves que deviam despertar consciências e motivar os movimentos cívicos a lutar mais, muito mais, pela manutenção do SNS. Até porque nunca poderemos saber quando vamos precisar dele e, nos tempos que correm, não são muitas as pessoas que podem pagar seguros de saúde em condições. A maioria anda a pagar pouco - aquilo que consegue e pode - para depois, quando mais precisa, vir a descobrir que não passa de uma apólice ranhosa que não assegura coisa nenhuma e lá tem que se voltar para o SNS.
Estes são sinais muito preocupantes e graves que deviam despertar consciências e motivar os movimentos cívicos a lutar mais, muito mais, pela manutenção do SNS. Até porque nunca poderemos saber quando vamos precisar dele e, nos tempos que correm, não são muitas as pessoas que podem pagar seguros de saúde em condições. A maioria anda a pagar pouco - aquilo que consegue e pode - para depois, quando mais precisa, vir a descobrir que não passa de uma apólice ranhosa que não assegura coisa nenhuma e lá tem que se voltar para o SNS.
Se os nossos impostos pagam tanta coisa supérflua e perfeitamente inútil, tanto vencimento milionário e tanta mordomia indecente por que não hão de eles assegurar também a sobrevivência financeira do SNS - a qual devia, aliás, ser uma prioridade nacional? Isto antes que, para poderem realizar as cirurgias programadas, os hospitais públicos se vejam forçados a recorrer a expedientes como este.
Giuseppe Coco, In É grave, doutor?, Lx: Publ. D. Quixote, 1982 |
sábado, 17 de março de 2012
Evocação da chuva
Aqui há dias experimentei fazer uma espécie de invocação da chuva usando alguns dos guarda-chuvas "introuvables" de Carelman. Não resultou. Hoje, apareceram umas nuvens escuras, carregadas de água, mas até agora tudo não passou de um ligeiro spray que não durou mais de dez minutos.
Lembrei-me de fazer esta evocação da chuva como quem, quando as crianças estão a aprender a controlar os esfíncteres, abre a torneira e deixa correr a água para lhes estimular a vontade de fazer chichi no penico, a ver se as nuvens arranjam vontade de fazer o mesmo lá em cima e abrem finalmente a bexiga sobre a terra sequiosa. Ao fim de cinco meses sem largar uma gota de água, devem as nuvens estar quase a rebentar de vontade, ou será que ainda não?
Lembrei-me de fazer esta evocação da chuva como quem, quando as crianças estão a aprender a controlar os esfíncteres, abre a torneira e deixa correr a água para lhes estimular a vontade de fazer chichi no penico, a ver se as nuvens arranjam vontade de fazer o mesmo lá em cima e abrem finalmente a bexiga sobre a terra sequiosa. Ao fim de cinco meses sem largar uma gota de água, devem as nuvens estar quase a rebentar de vontade, ou será que ainda não?
sexta-feira, 16 de março de 2012
Felizmente, ainda temos isto...
aqui na sulidão. Embora o preço seja alto, vale bem a pena continuar a tentar que se mantenha assim por muito mais tempo.
A nordeste nada de novo. Nada mesmo.
Ou como a justiça inglesa levou não sei quantos anos para descobrir este "ovo de colombo". Tantos, que mais parece a nossa.
Ler notícia aqui |
A horríbil (des)proporção
A imprensa deu agora destaque aos "quinze dias horribilis" que o primeiro-ministro acabou de experienciar a propósito da gestão dos fundos do QREN.
Imagem daqui |
Ninguém diz é dos "anos horribilis" que cada um destes "quinze dias" de um só homem implicarão para todos e cada um de nós. Nem ninguém está muito interessado em saber dos "anos horribilis" que já temos em cima por causa dele, e de outros como ele, e dos "anos horribilis" que ainda estão para vir à conta desta gente toda...
Pontos de vista
Para todos nós está
meio vazio:
afinal, o Governo AINDA
dá tolerância de ponto a 24 de dezembro
quinta-feira, 15 de março de 2012
Autoconsolo
Depois de ter dado aulas durante toda a manhã, de ter estado a trabalhar para a biblioteca e de ter estado ainda a colaborar com a equipa de colegas responsável pelo jornal da escola, recolhendo fotografias e redigindo textos e depois de ter estado ainda numa reunião de departamento até ao final da tarde, já só me falta corrigir os testes de uma turma - a 5ª da semana - e mais um teste solto de um aluno que faltou ao teste na sua turma de origem e teve (tive) que o fazer depois e, claro, também preparar um pouco o que vou fazer já nas aulas de amanhã logo ao início da manhã. Já agora, também me convinha confeccionar uma certa sopa de legumes antes que os ditos (em stand by há três dias) apodreçam no frigorífico e comer um prato da mesma, ainda hoje de preferência. De caminho, enquanto arrumo a cozinha, também não era má ideia ligar a máquina da roupa que está já um tanto atrasada e deixá-la estendida ainda antes de me deitar porque amanhã, antes de sair para a escola, não é provável que o consiga fazer...
No meio disto tudo, a única coisa que me consola é ter ficado a saber que, segundo um estudo da OCDE, ganho mais do que a média dos trabalhadores com a mesma qualificação!! (ver aqui) Extraordinário! Eu, simples professora, a ganhar mais do que um advogado, um médico, um gestor ou um engenheiro!? Quem diria!? Às tantas, mais bem paga até do que os próprios "especialistas" contratados pela OCDE, não querem lá ver?
Mas não. A "vidinha deve de tár mêmo muinta boa" (como dizem os meus alunos) é para quem anda a produzir estes estudos científicos "at a Glance" da OCDE em série. Por isso é que eles não têm problemas em chegar a estas "brilhantes" conclusões.
quarta-feira, 14 de março de 2012
terça-feira, 13 de março de 2012
A montanha pariu... um livro
Cavaco Silva publicou agora mais um volume - o VI - da sua já longa saga presidencial. Desta feita o presidente resolveu escrever uma história de zombies. A personagem central desta narrativa empolgante chama-se José Sócrates, está morto-vivo há já um ano e toda a (in)acção acontece entre os bastidores do palácio de Belém e os corredores de S. Bento.
Ora, todos sabemos que não há melhor que uma boa polémica nos media para ajudar ao sucesso de um filme, de um livro ou de um disco. E este "Roteiros VI" começou bem, diga-se de passagem.
Na mira de conseguir publicar um best seller antes do final do seu segundo (último?) mandato, Cavaco Silva tem-se desdobrado em sessões de apresentação e autógrafos um pouco por todo o país, durante as quais não se tem cansado de apelar à sua leitura integral. Claro está que, à luz das mais recentes notícias sobre as dificuldades financeiras que a família Silva atravessa, compreende-se melhor este apelo veemente: quem sabe se os direitos de autor não poderão ainda vir a dar uma boa ajudinha nas "despesas" presidenciais?
Imagem daqui |
Não sei como é que o PNL (Plano Nacional de Leitura) ainda não teve a belíssima ideia de convidar o senhor - e respetiva esposa, claro está - para um part time na promoção do livro e da leitura aí pelas bibliotecas e escolas do país. Sempre eram mais uns trocos que entravam lá em casa. Menos ainda entendo como é que os seis volumes da saga "Roteiros" não integram já a lista de obras recomendadas pelo próprio PNL para leitura nas escolas do país...
segunda-feira, 12 de março de 2012
domingo, 11 de março de 2012
sábado, 10 de março de 2012
sexta-feira, 9 de março de 2012
Custe o que custar
quinta-feira, 8 de março de 2012
A revolução [ainda] não passou por aqui...
e a verdade é que não há "Dia internacional de" que seja capaz de o disfarçar.
Elas vão à parteira que lhes diz que já vai adiantado. Elas alargam o cós das saias. Elas choram a vomitar na pia. Elas limpam a pia. Elas talham cueiros. Elas passam fitilhos de seda no melhor babeiro. Elas andam descalças que os pés já não cabem no calçado. Elas urram. Elas untam o mamilo gretado com um dedal de manteiga. Elas cantam baixinho a meio da noite a niná -lo para que o homem não acorde. Elas raspam as fezes das fraldas com uma colher romba. Elas lavam. Elas carregam ao colo. Elas tiram o peito para fora debaixo de um sobreiro. Elas apuram o ouvido no escuro para ver se a gaiata na cama ao lado com os irmãos não dá por aquilo. Elas assoam. Elas lavam joelhos com água morna. Elas cortam calções e bibes de riscado. Elas mordem os beiços e torcem as mãos, a jorna perdida se o febrão não desce. Elas lavam os lençois com urina. Elas abrem a risca do cabelo, elas entrançam. Elas compram a lousa e o lápis e a pasta de cartão. Elas limpam rabos. Elas guardam uma madeixita entre dois trapos de gaze. Elas talham um vestido de fioco para uma boneca de papelão escondida debaixo da cama. Elas lavam as cuecas borradas do primeiro sémen, do primeiro salário, da recruta. Elas pedem fiado popeline da melhor para a camisa que hão-de levar para a França, para Lisboa. Elas vão à estação chorosas. Elas vêm trazer uin borrego à primeira barraca e ao primeiro neto. Elas poupam no eléctrico para um carrinho de corda.
3. Produção
Elas sobem para cima de um caixote, que ainda são pequenas para chegar à bancada de descarnar o peixe. Elas mondam, os dedos tolhidos de frieira e urtiga. Elas fazem descer a lâmina de cortar o coiro. Elas sopram nos dedos a aquecê-los, esfregam os olhos, voltam a pôr as mãos por detrás da lente a acertar os fios da matriz do transistor. Elas espremem as tetas da vaca para o balde apertado entre as pernas. Elas fecham num dia as pregas de papel de mil pacotes de bolacha. Elas acertam em duzentos casacos a postura da manga onde cravar o botão. Elas limpam o suor da testa com a manga e a foice rebrilha ao sol por cima da cabeça e da seara. Elas ouvem a matraca de dez teares enquanto a peça cresce diante, o fio amandado de braço a braço aberto. Elas cortam os dedos nas primeiras vinte cinco latas até calejar bem. Elas fazem a agulha passar para cá e lá em cruz na tela do tapete. Elas vigiam a última fieira de garrafas, caladas, à espera da sirene. Elas carregam o cesto de azeitona à cabeça já sem cantar, até que o sol se ponha.
4. Serviços
Elas carregam no botão da caixa e fazem quinhentos trocos miúdos. Elas metem a cavilha, dizem outro número e passam a vigésima chamada. Elas mexem panelões que lhes chegam à cinta. Elas descem doze caixotes de lixo já noite fechada. Elas fazem todas as camas e despejos de uma família alheia. Elas picam bilhetes metidas numa caixa de vidro. Elas batem à máquina palavras que não entendem. Elas arquivam por ordem alfabética duas mil fichas e vinte e cinco ofícios. Elas vão outra vez buscar a gaveta das luvas para o balcão a ver se há aquele verde. Elas aspiram do pó antes das nove doze assoalhadas, e cento e dez degraus de alcatifa. Elas entram na praça manhã cedo, já vindas do lota ajoujadas com o peixe para as bancadas. Elas acertam as bainhas de joelhos, a boca cheia de alfinetes. Elas põem trinta e duas arrastadeiras e tiram sessenta temperaturas. Elas pintam unhas de homem. Elas guardam sanitas e fazem renda em pequenos cubículos sem janela.
Imagem Google |
Revolução e mulheres
1. Reconstituição da força de trabalho
Elas são quatro milhões, o dia nasce,
elas acendem o lume. Elas cortam o pão e aquecem o café. Elas picam cebolas e
descascam batatas. Elas migam sêmeas e restos de comida azeda. Elas chamam ainda
escuro os homens e os animais e as crianças. Elas enchem lancheiras e tarros e
pastas de escola com latas e buchas e fruta embrulhada num pano limpo.
Elas lavam os lençóis e as camisas que hão-de suar-se outra vez. Elas esfregam o
chão de joelhos com escova de piaçaba e sabão amarelo e correm com os insectos a
que não venham adoecer os seus enquanto dormem. Elas brigam nos mercados e
praças por mais barato. Elas contam centavos. Elas costuram e enfiam malhas em
agulhas de pau com as lãs que hão-de manter no corpo o calor da comida que elas
fazem. Elas vêm com um cântaro de água à cinta e um molho de gravetos na cabeça.
Elas limpam as pias e as tinas e as coelheiras e os currais. Elas acendem o
lume. Elas migam hortaliça. Elas desencardem o fundo dos tachos. Elas passajam
meias e calças e camisas e outra vez meias. Elas areiam o fogão com palha de
aço. Elas calcorreiam a cidade a pé e à chuva porque naquele bairro os macacos
são caros. Elas correm esbaforidas para não perder o comboio, o barco. Elas
pousam o cesto e abrem a porta com a mão vermelha. Elas põem a tranca no
palheiro. Elas enterram o dedo mínimo na galinha a ver se tem ovo. Elas acendem
o lume. Elas mexem o arroz com um garfo de zinco. Elas lambem a ponta do fio de
linha para virar a camisa. Elas enchem os pratos. Elas pousam o alguidar na
borda da pia para aguentar. Elas arredam a coberta da cama. Elas abrem-se para
um homem cansado. Elas também dormem.
2. Reprodução da força de trabalho
Elas vão à parteira que lhes diz que já vai adiantado. Elas alargam o cós das saias. Elas choram a vomitar na pia. Elas limpam a pia. Elas talham cueiros. Elas passam fitilhos de seda no melhor babeiro. Elas andam descalças que os pés já não cabem no calçado. Elas urram. Elas untam o mamilo gretado com um dedal de manteiga. Elas cantam baixinho a meio da noite a niná -lo para que o homem não acorde. Elas raspam as fezes das fraldas com uma colher romba. Elas lavam. Elas carregam ao colo. Elas tiram o peito para fora debaixo de um sobreiro. Elas apuram o ouvido no escuro para ver se a gaiata na cama ao lado com os irmãos não dá por aquilo. Elas assoam. Elas lavam joelhos com água morna. Elas cortam calções e bibes de riscado. Elas mordem os beiços e torcem as mãos, a jorna perdida se o febrão não desce. Elas lavam os lençois com urina. Elas abrem a risca do cabelo, elas entrançam. Elas compram a lousa e o lápis e a pasta de cartão. Elas limpam rabos. Elas guardam uma madeixita entre dois trapos de gaze. Elas talham um vestido de fioco para uma boneca de papelão escondida debaixo da cama. Elas lavam as cuecas borradas do primeiro sémen, do primeiro salário, da recruta. Elas pedem fiado popeline da melhor para a camisa que hão-de levar para a França, para Lisboa. Elas vão à estação chorosas. Elas vêm trazer uin borrego à primeira barraca e ao primeiro neto. Elas poupam no eléctrico para um carrinho de corda.
3. Produção
Elas sobem para cima de um caixote, que ainda são pequenas para chegar à bancada de descarnar o peixe. Elas mondam, os dedos tolhidos de frieira e urtiga. Elas fazem descer a lâmina de cortar o coiro. Elas sopram nos dedos a aquecê-los, esfregam os olhos, voltam a pôr as mãos por detrás da lente a acertar os fios da matriz do transistor. Elas espremem as tetas da vaca para o balde apertado entre as pernas. Elas fecham num dia as pregas de papel de mil pacotes de bolacha. Elas acertam em duzentos casacos a postura da manga onde cravar o botão. Elas limpam o suor da testa com a manga e a foice rebrilha ao sol por cima da cabeça e da seara. Elas ouvem a matraca de dez teares enquanto a peça cresce diante, o fio amandado de braço a braço aberto. Elas cortam os dedos nas primeiras vinte cinco latas até calejar bem. Elas fazem a agulha passar para cá e lá em cruz na tela do tapete. Elas vigiam a última fieira de garrafas, caladas, à espera da sirene. Elas carregam o cesto de azeitona à cabeça já sem cantar, até que o sol se ponha.
Imagem Google |
Elas carregam no botão da caixa e fazem quinhentos trocos miúdos. Elas metem a cavilha, dizem outro número e passam a vigésima chamada. Elas mexem panelões que lhes chegam à cinta. Elas descem doze caixotes de lixo já noite fechada. Elas fazem todas as camas e despejos de uma família alheia. Elas picam bilhetes metidas numa caixa de vidro. Elas batem à máquina palavras que não entendem. Elas arquivam por ordem alfabética duas mil fichas e vinte e cinco ofícios. Elas vão outra vez buscar a gaveta das luvas para o balcão a ver se há aquele verde. Elas aspiram do pó antes das nove doze assoalhadas, e cento e dez degraus de alcatifa. Elas entram na praça manhã cedo, já vindas do lota ajoujadas com o peixe para as bancadas. Elas acertam as bainhas de joelhos, a boca cheia de alfinetes. Elas põem trinta e duas arrastadeiras e tiram sessenta temperaturas. Elas pintam unhas de homem. Elas guardam sanitas e fazem renda em pequenos cubículos sem janela.
5. Transmissão de ideologia
Coisas que elas [ainda]
dizem:
— Se mexes aí, corto-ta.
— Isso não são coisas de menina.
—
O meu homem não quer.
— Estuda, que se tiveres um empregozinho sempre é uma
ajuda.
— A mulher quer-se é em casa.
— Isto já vai do destino de cada
um.
— Deus não quiz.
— Mas o senhor padre disse-me que assim não.
— Dá
um beijinho à senhora que é tão boazinha para a gente.
— Você sabe que eu não
sou dessas.
— Estás a dar cabo do teu futuro com uns e com outros.
—
Deixa-te disso, o que é preciso é sossego e paz de espírito.
— Comprei uns
jeans bestiais, pá.
— Sempre dá para uma televisão daquelas novas.
— Cada
um no seu lugar.
— Julgas que ele depois casa contigo?
— Sempre há-de
haver pobres e ricos.
— Se tu gostasses de mim não andavas com aquela cabra a
gastar o nosso.
— Põe o comer ao teu irmão que está a fazer os trabalhos.
— Põe o comer ao teu irmão que está a fazer os trabalhos.
—
Sempre é homem.
Imagem Google |
6. Produção de desejo
Elas [ainda] olham para o
espelho muito tempo. Elas [ainda] choram. Elas [ainda] suspiram por um rapaz aloirado, por duas
travessas para o cabelo cravejadas de pedrinhas, um anel com pérola. Elas [ainda] limpam
com algodão húmido as dobras da vagina da menina pensando, coitadinha. Elas [ainda] escondem os panos sujos de sangue carregadas de uma grande tristeza sem razão.
Elas [ainda] sonham três noites a fio com um homem que só viram de relance à porta do
café. Elas [ainda] trazem no saco das compras uma pequena caixa de plástico que serve
para pintar a borda dos olhos de azul. Elas [ainda] inventam histórias de comadres como
quem aventura. Elas [ainda] compram às escondidas cadernos de romances em fotografias.
Elas [ainda] namoram muito. Elas [ainda] namoram pouco. Elas [ainda] não dormem a pensar em pequenas
cortinas com folhos. Elas [ainda] arrancam os primeiros cabelos brancos com uma pinça
comprada na drogaria. Elas [ainda] gritam a despropósito e agarram-se aos filhos
acabados de sovar. Elas [ainda] andam na vida sem a mãe saber, por mais três vestidos e
um par de botas. Elas [ainda] pagam a letra da moto ao que lhes bate. Elas [ainda] não falam
dessas coisas. Elas [ainda] chamam de noite nomes que não vêm. Elas [ainda] ficam absortas com a
mola da roupa entre os dentes a olhar o gato sentado no telhado entre as
sardinheiras. Elas [ainda] queriam outra coisa.
7.
Revolução
Elas fizeram greves de braços caídos. Elas brigaram em
casa para ir ao sindicato e à junta. Elas gritaram à vizinha que era fascista.
Elas souberam dizer salário igual e creches e cantinas. Elas vieram para a rua
de encarnado. Eles foram pedir para ali uma estrada de alcatrão e canos de água.
Elas gritaram muito. Elas encheram as ruas de cravos. Elas disseram à mãe e à
sogra que isso era dantes. Elas trouxeram alento e sopa aos quartéis e à rua.
Elas foram para as portas de armas com os filhos ao colo. Elas ouviram faltar de
uma grande mudança que ia entrar pelas casas. Elas choraram no cais agarradas
aos filhos que vinham da guerra. Elas choraram de ver o pai a guerrear com o
filho. Elas tiveram medo e foram e não foram. Elas aprenderam a mexer nos livros
de contas e nas alfaias das herdades abandonadas. Elas dobraram em quatro um
papel que levava dentro urna cruzinha laboriosa. Elas sentaram-se a falar à roda
de uma mesa a ver como podia ser sem os patrões. Elas levantaram o braço nas
grandes assembleias. Elas costuraram bandeiras e bordaram a fio amarelo pequenas
foices e martelos. Elas disseram à mãe, segure-me aqui os cachopos, senhora, que
a gente vai de camioneta a Lisboa dizer-lhes como é. Elas vieram dos arrebaldes
com o fogão à cabeça ocupar uma parte de casa fechada. Elas estenderam roupa a
cantar, com as armas que temos na mão. Elas diziam tu às pessoas com estudos e
aos outros homens. Elas iam e não sabiam para aonde, mas que iam. Elas acendem o
lume. Elas cortam o pão e aquecem o café esfriado. São elas que acordam pela
manhã as bestas, os homens e as crianças adormecidas.
Dezembro
1975
Maria Velho da Costa, Cravo,
Lisboa: Moraes Editores,
1975
quarta-feira, 7 de março de 2012
Truncação
dos dedos ávidos que colhem bagas de suor à flor da pele
se diz ardor
do gume afiado das palavras que cortam cerce a luminosa expectativa da manhã
se diz arder
do buraco que se abre com fragor no chão amarrotado da cama
se diz despenhar
da ardência invisível que sobe por dentro até transbordar
se diz chorar
da vontade feita força bruta que me arranca ao pó do chão
se diz avançar
se diz ardor
do gume afiado das palavras que cortam cerce a luminosa expectativa da manhã
se diz arder
do buraco que se abre com fragor no chão amarrotado da cama
se diz despenhar
da ardência invisível que sobe por dentro até transbordar
se diz chorar
da vontade feita força bruta que me arranca ao pó do chão
se diz avançar
terça-feira, 6 de março de 2012
segunda-feira, 5 de março de 2012
domingo, 4 de março de 2012
A máquina de fazer pobres...
... também conhecida por troika, terminou agora a sua terceira avaliação ao programa de austeridade e saiu satisfeita, pois ao que tudo indica, as coisas estão a correr bastante bem:
- o nº de falências de empresas é um dos recordes do ano e este ainda só estamos em março: mais 42,5% do que as insolvências observadas no período homólogo de 2011 ou qualquer coisa como 17 empresas por dia. Disparou igualmente o número de dívidas incobráveis.
- conseguimos também alcançar uma taxa recorde de desemprego: 14,8 em janeiro, e sempre a subir, que ainda há onze meses pelas frente.
- conseguimos também alcançar uma taxa recorde de desemprego: 14,8 em janeiro, e sempre a subir, que ainda há onze meses pelas frente.
- a carga fiscal a que os rendimentos do trabalho estão sujeitos e os valores das taxas de iva nos produtos e bens essenciais são outros dois candidatos ao livro de recordes do Guiness.
- não é, pois, de estranhar que quase 100 mil portugueses tenham já uma parte do ordenado penhorado e que, só no ano passado, mais de 5 mil imóveis tenham sido entregues aos bancos por incumprimento no pagamento das prestações dos empréstimos.
Face a estes tão bons resultados a troika deu assim luz verde a uma nova tranche de 14,9 mil milhões de euros do empréstimo negociado com o FMI e com a UE, mas que, evidentemente, teremos de pagar com juros e ainda agradecer humildemente a benesse concedida porque, se assim não fosse estaríamos tramados, dizem eles. Como se, tramados, não estivéssemos já nós todos, e bem. Deve ser por isso que, o advérbio "calorosamente", usado por esta empáfica personagem ao comentar a decisão da troika, ainda me deixa mais furiosa. Aliás, quanto mais os ouço, mais me apetece mandá-los a todos ir pescar chernes.
Também já percebemos que, por alturas da quarta e próxima avaliação desta autêntica máquina de fazer pobres, menos que a indigência geral do país, será considerado um mau resultado e severamente punido com... mais austeridade, pois então.
Também já percebemos que, por alturas da quarta e próxima avaliação desta autêntica máquina de fazer pobres, menos que a indigência geral do país, será considerado um mau resultado e severamente punido com... mais austeridade, pois então.
sábado, 3 de março de 2012
Ouve
Ouve:
Como tudo é tranquilo e dorme liso.
Claras as paredes, o chão brilha,
E pintados
no vidro da janela,
O céu, um campo verde, duas árvores.
Fecha os olhos e dorme no mais fundo
De tudo quanto nunca floresceu.
Não toques em nada, não olhes, não te lembres.
Qualquer passo
Faz estalar as mobílias aquecidas
Por tantos dias de sol inúteis e compridos.
Não te lembres, nem esperes,
Não estás no interior dum fruto:
Aqui o tempo e o sol nada amadurecem.
Sophia de Mello Breyner Andresen, In Coral, 1950
José Manuel Rodrigues |
Ouve:
Como tudo é tranquilo e dorme liso.
Claras as paredes, o chão brilha,
E pintados
no vidro da janela,
O céu, um campo verde, duas árvores.
Fecha os olhos e dorme no mais fundo
De tudo quanto nunca floresceu.
Não toques em nada, não olhes, não te lembres.
Qualquer passo
Faz estalar as mobílias aquecidas
Por tantos dias de sol inúteis e compridos.
Não te lembres, nem esperes,
Não estás no interior dum fruto:
Aqui o tempo e o sol nada amadurecem.
Sophia de Mello Breyner Andresen, In Coral, 1950
sexta-feira, 2 de março de 2012
Há metafísica bastante em não pensar em nada
O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso
Alberto Caeiro, In O Guardador de Rebanhos,
V (excerto)
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso
Alberto Caeiro, In O Guardador de Rebanhos,
V (excerto)
quinta-feira, 1 de março de 2012
"Boas ideias para o país"? Ora aqui está uma!
Passos Coelho pediu aos portugueses que registassem na portal do governo algumas "boas ideias para o país" (ver aqui), num separador a que deu o nome de “O meu movimento” (ver aqui).
Face ao número crescente de animais abandonados, com a desculpa da "crise" proponho a criação, com os devidos apoios financeiros do próprio governo, de uma agência nacional de Catvertising, negócio que, nos Estados Unidos, tem crescido a olhos vistos e ameaça dominar a rede com vídeos de gatos, claro está.
E, pelo aspecto próspero da tal agência de Catvertising, parece que esta é mesmo uma daquelas ideias com elevado potencial, como agora se diz. O facto é que o criativo mundo da publicidade já é cada vez mais dos felinos, até porque são actores/modelos bonitos, versáteis, baratos e, sobretudo, abundantes, como bem demonstra este anúncio:
E, se a ideia pegar por cá, quem sabe se, daqui a algum tempo, não poderemos vir e ter também o nosso "Candidato Hank" no Parlamento. (Ler notícia aqui)
Hank tem sobre os humanos pelo menos uma vantagem que não é despicienda: não fala. É que já não há paciência para discursos de político em campanha eleitoral. Além disso, e a julgar pelo desempenho de alguns dos nossos deputados, acho que até nem era assim tão má ideia. Afinal, para marcar presença,até um gato serve, não?
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