Na primeira versão desta estória pouco edificante do défice das contas públicas, sempre nos tem sido re-afirmado que os vilões são os funcionários públicos. E porquê? São demasiados, dizem, trabalham pouco e pesam muito no orçamento do estado. Além disso, têm imensíssimas regalias... Encontrado o bode expiatório perfeito, e com o beneplácito da troika, cortou-se a direito na função pública. E onde? Na educação, na cultura, na saúde e nos apoios sociais aos mais carenciados (idosos, crianças). E os bons resultados desta estratégia aí estão bem à vista de todos: apenas nestes dois primeiros meses do ano o estado já poupou qualquer coisa como 133 milhões de euros (ver aqui) só em remunerações. Sobre a eficácia dos serviços (só nos hospitais do SNS há agora qualquer coisa como 175 mil doentes em lista de espera para uma cirurgia) ou a qualidade de vida dos cidadãos nem vale a pena falar até porque isso, agora, não interessa nada. Pelo menos ao estado.
Contudo, o défice das contas públicas não tem diminuido. Bem pelo contrário. Só em fevereiro, já cresceu quase três vezes, em comparação com o mesmo mês do ano passado. E agora, como é? Quem é, afinal, o responsável por esta situação? Novamente a função pública? Isto porque a hipótese de considerarmos como certa a incompetência de quem tem gerido o dinheiro dos nossos impostos e agirmos em conformidade ainda é impensável no nosso país, o que é de lamentar.
Há que arranjar, pois, um novo bode expiatório, portanto. Aliás, ao ritmo a que isto vai, um rebanho inteiro. É que o da função pública já está quase moribundo e dificilmente conseguirá aguentar a expiação de mais pecados alheios. Está, assim, aberto o casting e o primeiro candidato já apareceu - a RTP -, com umas despesas "extraordinárias" e que, ainda por cima, não estavam "previstas para o início do ano" (ler notícia aqui). Imagine-se! A mim, tal candidato não convence. Porém, até se encontrar um melhor, lá terá que servir o velho bode moribundo. Que remédio! Até porque alguém terá que pagar mais esta conta, lá isso é verdade!
Nota: o funcionalismo público não é diferente de qualquer outro setor económico. Há lá de tudo: bom, mau e assim-assim. Só é pena que não se consiga fazer a distinção, mas também não interessa muito que tal aconteça. Compreende-se: se distinguirmos os melhores, os piores dão mais nas vistas!
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