segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Tesouros perdidos

("perdidos" é, em muitos destes casos, um óbvio eufemismo)

Não são apenas os portugueses que andam espalhados pelo mundo. O nosso património também. E desde há já muitos séculos. Porém, a forma como algum desse património saiu do país levanta dúvidas. E muitas.
Alguns desses "tesouros" podiam ter regressado ao território nacional porque foram roubados ou levados de forma ilegal, mas ninguém de direito (e dever) se esforçou muito para que isso viesse a acontecer. Se alguns têm, apesar de tudo, regressado ao país é porque colecionadores privados os têm adquirido no estrangeiro e trazido de novo para cá. Esta reportagem da RTP - verdadeiro exemplo de serviço público de televisão - já tem alguns anos, mas identifica e divulga diversos exemplos de património nacional em diferentes países da Europa e nos Estados Unidos, contando ainda a história - mais ou menos atribulada - da sua saída do país. Mantém, pois, toda a sua atualidade e pertinência.

Património português nos Estados Unidos

Em França

Na Suíça:

Um colecionador que tem adquirido e trazido de volta a Portugal algum do nosso património perdido:

O caso exemplar da "Baixela Wellington" ou...

as costumeiras trapalhadas dos políticos nacionais


E, em 2002, a cereja no topo do bolo: Portugal decide emprestar à Holanda quinze peças do acervo do museu do Palácio Nacional da Ajuda para uma exposição intulada «Diamante: da pedra bruta à jóia» Entre elas, contavam-se seis peças das jóias da família real portuguesa com valor incalculável, não apenas do ponto de vista gemológico, mas sobretudo do ponto de vista histórico, a saber:
Diamante em bruto com 135 quilates (o da direita), proveniente do Brasil*

Anel com um diamante de 37 quilates, em prata e ouro, da segunda metade do século XVIII*

Dois alfinetes/brincos em forma de trevo em ouro, diamantes e brilhantes, da segunda metade do séc. XIX*

Castão de uma bengala do Rei D José I, em ouro cravejado com 387 brilhantes montados em prata; no topo tem um brilhante solitário com o peso de 24, 32 quilates que tem a particularidade de poder ser desaparafusado*

Gargantilha da segunda metade do séc. XVIII com 32 brilhantes de tamanhos decrescentes, com um peso total estimado de 150, 35 quilates*
* In "Tesouros Reais" - Catálogo da Exposição realizada no Palácio da Ajuda em 1992
Foram todas roubadas da exposição e nunca mais apareceram (ler notícia aqui). Seis anos depois, o estado português recebeu uma indemnização de 6 milhões de euros (ler notícia aqui) que já foi, aliás, aplicada na compra de um quadro de Tiepolo e na construção de vitrinas tipo caixa-forte para exposição permanente das jóias da Coroa portuguesa (ler aqui).
Agora que a crise nos entrou pela casa dentro e se instalou no sofá para ficar sabe-se lá até quando é lícito interrogarmo-nos sobre o destino de muito do nosso património artístico e cultural.
Talvez daqui a uns anos, se a RTP ainda existir, algum jornalista faça a investigção - e respetiva reportagem - sobre o património que, por estes tempos difíceis, está a ser vendido ao desbarato para fazer dinheiro rápido. As lojas de compra e venda de ouro que todos os dias abrem portas de norte a sul do país são um sinal evidente disso mesmo.

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