(ou não fossem precisos dois para dançar o tango...)
quinta-feira, 31 de janeiro de 2013
quarta-feira, 30 de janeiro de 2013
Chamemos-lhe "(re)união"...
Segundo as notícias, os socialistas mantiveram sigilo sobre a hora e o local do encontro que hoje decorre(u) entre os dois galos que disputam o poleiro no PS (ler aqui). Mas já todos percebemos que decorreu aqui... pelo menos para um deles.
Constância; 28/1/2013 |
terça-feira, 29 de janeiro de 2013
PREMEC
O ministro Relvas veio hoje, com ar solene, declamar que "Fui mandatado para iniciarmos um ambicioso processo de reestruturação e modernização da RTP (...) Vai ser um processo ambicioso, muito exigente. Vai ser doloroso. Não é possível uma empresa como a RTP ter o tamanho que tem hoje".
Ou seja, depois do PREC, o PREMEC: Processo Reestruturação E Modernização Em Curso. E aqui fica desde já o trailer deste relvático "evento":
Outros tempos e... outros trocadilhos
Depois de receber a visita dos inspetores da Galp à rede de gás aqui de casa e de ouvir que tenho de abrir buracos de ventilação desde as portas dos armários (sim, minha senhora, porque a estética nem sempre é funcional, sabe?, dizia um deles em tom paternalista e eu a tentar reprimir a vontade de o mandar a um sítio que eu cá sei...) até à caixa do estore da janela , mais a substituição da conduta dos gases, a afinação do esquentador, etc etc. etc. (*******???!!!!), dei comigo a lembrar-me deste anúncio com alguma nostalgia e a pensar com os meus botões: que será feito deste "homem do gás"? Isto é que era serviço eficiente... quando comparado com o destes rapazolas emproados com o seu medidor de monóxido de carbono todo xpto...
segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
domingo, 27 de janeiro de 2013
Sala de espera
É a sétima hora de espera num mundo
que parece estar dividido em dois
pela porta do bloco operatório que,
ao fundo do corredor, faz fronteira
entre a ansiedade dos que aqui
esperam e o tempo suspenso das
notícias sobre os que aqui são esperados.
O olhar vai percorrendo todos os pontos
possíveis da sala até ser inevitavel fixar-se
no televisor suspenso no canto superior direito
possíveis da sala até ser inevitavel fixar-se
no televisor suspenso no canto superior direito
e que parece funcionar tão ininterruptamente,
como o próprio hospital. A estridência das
vozes e das cores que se sucedem no ecrã
vozes e das cores que se sucedem no ecrã
a um ritmo imparável agudiza a exasperação
de não poder mais do que ficar aqui, parada,
à espera. Mas é apenas ao vai-e-vem
das batas brancas, caminhando a espaços
irregulares pelo corredor, que o olhar está atento.
de não poder mais do que ficar aqui, parada,
à espera. Mas é apenas ao vai-e-vem
das batas brancas, caminhando a espaços
irregulares pelo corredor, que o olhar está atento.
Lentamente se escoa a sétima hora
desta espera e o vento da inquietação começa
a assobiar baixinho por dentro de mim. E,
como se a memória fosse um livro pop-up,
é de repente o cheiro a restolho da tua pele
que me invade os sentidos. Fecho os olhos
e percorro-te o corpo como quem procura
um refúgio para fintar a tempestade.
que me invade os sentidos. Fecho os olhos
e percorro-te o corpo como quem procura
um refúgio para fintar a tempestade.
Revejo agora a ânsia com que,
em certos momentos, as nossas mãos
se procuram para entrelaçar os dedos
(talvez, na voragem de estarmos
dentro um do outro tenhamos medo
de nos perder - não um do outro -,
mas um no outro). E também
esse audível latejar do sangue
nas artérias... minhas? tuas?
Prestes a terminar a sétima hora
desta espera ainda sem fim à vista
percebo como, quase sem dar por isso,
é no teu corpo que tenho vindo a construir
percebo como, quase sem dar por isso,
é no teu corpo que tenho vindo a construir
a minha sala de pânico. E como corro
o sério risco de, um dia, lá ficar fechada.
o sério risco de, um dia, lá ficar fechada.
sábado, 26 de janeiro de 2013
sexta-feira, 25 de janeiro de 2013
quinta-feira, 24 de janeiro de 2013
Este "consultor do governo" vale o seu peso em ouro.....
(Sorte a nossa que ele pesa cada vez menos, senão íamos mesmo à falência...)
O claro sinal de ser esperada
O tempo em que ao anoitecer tu acendias
sempre a lâmpada por cima da porta,
era também o tempo em que eu,
vindo pela estrada, avistava de longe
a pequena luz na escuridão e nela lia
o claro sinal de ser esperada.
E entrava em casa como se me acolhesse
no teu abraço.
Fazias sempre a mesma pergunta:
de onde vem a senhora?
E eu dava sempre a mesma
evasiva ou irónica resposta
que tu nem sequer ouvias,
pois em nada importava o lugar de onde vinha.
A única coisa realmente importante era
aquele instante de entrar em casa
como se me acolhesse no teu abraço.
E mesmo depois, quando vindo pela estrada
havia uma escuridão quase total,
continuei a encontrar o caminho de volta a casa,
pois esse luminoso sinal de ser aguardada
ainda brilhava dentro de mim.
Perdi o rumo apenas quando percebi que,
à entrada, já só a memória dos teus braços me acolhia.
quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
terça-feira, 22 de janeiro de 2013
Molusco
Com a viveza das marés aprendi a cerzir
o cromatócito manto em que me envolvo,
pois o segredo da invisibilidade não é
ser,
mas parecer igual a tudo o resto.
Mas há sempre um olhar mais atento
ao gesto descuidado, ou uma súbita vibração
no ar que às vezes denuncia a secreta
identidade,
sem dar tempo à calculada fuga.
E, na aflição, um só pensamento me
assola:
por que razão, afinal, não me ensinaram
as ondas a secretar carbonato de cálcio?
segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
domingo, 20 de janeiro de 2013
Por amor da santa!
Em entrevista publicada no "El País" de dia 19 do corrente, D. Duarte Pio afirmou: "creo que hay muchos portugueses que quieren un rey. Y muchos que opinan que es bueno que la Casa Real Portuguesa exista incluso en la República para poder ayudar sin otras obligaciones”. Duarte Pío asegura que los portugueses, según varios sondeos, son favorables a la monarquía en un aproximado 30%, y que el CDS, uno de los partidos que forman la actual coalición conservadora gubernamental, cuenta en sus filas con muchos dirigentes monárquicos."
Um rei!? Era mesmo só o que nos faltava agora!
Estrada de Elvas
Janeiro 2013 |
Nunca o saberás, pai, mas todos os km que já fiz nesta estrada para te
ir visitar me doem como pancadas: por não conseguir reconciliar-me contigo, nem
sequer agora que já és só farrapo e sombra de ti mesmo. Algo de fundamental se estilhaçou entre nós há muito tempo – se é que
alguma vez existiu – e nunca demos um
único passo para mudar a situação. Foste sempre e apenas o homem autoritário que
impunha em casa um silêncio hostil e nos mantinha a nós – tuas convenientes e
eficientes ‘servas’ - à distância e em
seu devido lugar: na cozinha. Nem mesmo no fim, quando as circunstâncias me
forçaram a decidir como seria o resto dos teus dias, conseguimos conversar
olhando nos olhos um do outro.
Quando agora chego e te vejo sentado num canto do pátio, de
rosto inexpressivo e olhar perdido no vazio, percebo como estás velho, só e
doente. E percebo o quanto isso, no fundo, me entristece. Apesar de tudo. Nos
escassos instantes que demoro a chegar perto de ti quase acrescento ‘frágil’.
Mas logo tu, decidido, me estendes a mão - exactamente como farias para cumprimentar um
qualquer conhecido encontrado por acaso na rua - e eu percebo que não é o impulso da tua ligeira demência a comandar-te o gesto e sim
o instinto certeiro de que a nossa relação filial não é - nem nunca foi - mais
do que uma absoluta formalidade. Igual a ti próprio até ao fim, pai. No fundo,
admiro (às vezes, até invejo) essa tua dureza quase feudal, que nunca se
compadeceu e que nunca vi fraquejar.
Também não deixa de haver uma certa ironia nesta distância
quilométrica que nos separa, e que é exactamente proporcional àquela a que sempre
vivemos quando ainda partilhávamos o mesmo tecto familiar. A única diferença é
que, agora, é já tarde demais. De uma forma estranha e paradoxal, esta estrada que percorro todas as semanas para te ver é também a única coisa que
ainda nos liga. A estrada, e esta tristeza amarga que nos consome vivos.
A preço de saldo
Alguém colocou um anúncio na página da OLX propondo a venda de um imóvel muito peculiar: a Assembleia da República. Preço: 1 € (ler notícia aqui)
Dado o custo de manutenção do edifício e a situação que estamos a viver, é caso para dizer que ele nos está a sair bem caro.
Mas é de louvar o sentido de humor deste cidadão. Deve ser mesmo a única coisa que ainda não nos conseguiram tirar.
Mas é de louvar o sentido de humor deste cidadão. Deve ser mesmo a única coisa que ainda não nos conseguiram tirar.
Ver anúncio aqui |
sábado, 19 de janeiro de 2013
Ouvir os pássaros
O mais completo e mais antigo arquivo científico de conteúdos áudio e vídeo do mundo - a biblioteca Macaulay - disponibilizou agora na internet (ler notícia aqui) cerca de 150 mil registos de áudio. A visita vale pelo deslumbramento dos sentidos.
http://macaulaylibrary.org/. |
Mas acho que se poderia acrescentar um arquivo: o dos sons deste vento que toda a noite rondou a casa, assobiou, rosnou, uivou, deu murros na parede, cabeçadas na janela e que ainda não desistiu de tentar entrar...
sexta-feira, 18 de janeiro de 2013
Nevoeiro
Denso como algodão doce a enrolar-se em volta das árvores.
Carícia inquietante que gosto de sentir na cara...
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
Corta daqui/des-corta ali
Em finais de outubro de 2012, o secretário de estado da Administração Pública dizia que "todos os agentes terão de ser chamados a discutir a reforma dos serviços do Estado, porque há escolhas a fazer, e o debate terá que ser sério". (ler notícia aqui)
Ainda 2013 mal começou e já um secretário de estado afim - o da Reforma Administrativa - vem anunciar que o...
Ler notícia aqui |
... e ainda que "o executivo admite também a necessidade de “analisar e projectar a eventual promoção de uma campanha de esclarecimento”, a qual será naturalmente entregue a uma outra equipa...
Ou seja, e agora mesmo a sério: corta daqui/des-corta ali, ou mais-do-mesmo.
terça-feira, 15 de janeiro de 2013
Sinestesia
segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
Frases de cabeceira - 17
Nunca uma situação se desenhou assim para o povo português: não ter futuro, não ter perspetivas de vida social, cultural, económica, e não ter passado porque nem as competências nem a experiência adquiridas contam já para construir uma vida. Se perdemos o tempo da formação e o da esperança foi porque fomos desapossados do nosso presente. Temos apenas, em nós e diante de nós, um buraco negro.
O «empobrecimento» significa não ter aonde construir um fio de vida, porque se nos tirou o solo do presente que sustenta a existência. O passado de nada serve e o futuro entupiu.
O poder destrói o presente individual e coletivo de duas maneiras: sobrecarregando o sujeito de trabalho, de tarefas inadiáveis, preenchendo totalmente o tempo diário com obrigações laborais; ou retirando-lhe todo o trabalho, a capacidade de iniciativa, a possibilidade de investir, empreender, criar. Esmagando-o com horários de trabalho sobre-humanos ou reduzindo a zero o seu trabalho.
(...) Atualmente, as pessoas escondem-se, exilam-se, desaparecem enquanto seres sociais. O empobrecimento sistemático da sociedade está a produzir uma estranha atomização da população: não é já o «cada um por si», porque nada existe no horizonte do «por si». A sociabilidade esboroa-se aceleradamente, as famílias dispersam-se, fecham-se em si, e para o português o «outro» deixou de povoar os seus sonhos - porque a textura de que são feitos os sonhos está a esfarrapar-se. Não há tempo (real e mental) para o convívio. A solidariedade efetiva não chega para retecer o laço social perdido. O Governo não só está a desmantelar o Estado social, como está a destruir a sociedade civil.
José Gil, "O Roubo do Presente", In 'Visão', 20 de Dezembro de 2012
O «empobrecimento» significa não ter aonde construir um fio de vida, porque se nos tirou o solo do presente que sustenta a existência. O passado de nada serve e o futuro entupiu.
O poder destrói o presente individual e coletivo de duas maneiras: sobrecarregando o sujeito de trabalho, de tarefas inadiáveis, preenchendo totalmente o tempo diário com obrigações laborais; ou retirando-lhe todo o trabalho, a capacidade de iniciativa, a possibilidade de investir, empreender, criar. Esmagando-o com horários de trabalho sobre-humanos ou reduzindo a zero o seu trabalho.
(...) Atualmente, as pessoas escondem-se, exilam-se, desaparecem enquanto seres sociais. O empobrecimento sistemático da sociedade está a produzir uma estranha atomização da população: não é já o «cada um por si», porque nada existe no horizonte do «por si». A sociabilidade esboroa-se aceleradamente, as famílias dispersam-se, fecham-se em si, e para o português o «outro» deixou de povoar os seus sonhos - porque a textura de que são feitos os sonhos está a esfarrapar-se. Não há tempo (real e mental) para o convívio. A solidariedade efetiva não chega para retecer o laço social perdido. O Governo não só está a desmantelar o Estado social, como está a destruir a sociedade civil.
José Gil, "O Roubo do Presente", In 'Visão', 20 de Dezembro de 2012
domingo, 13 de janeiro de 2013
Estrada de Elvas
Cilindros ao longo do asfalto
esmagam a tua memória sem sentido.
É o Inverno em Borba, não recordo
quase nada de ti. Vejo o trabalho
destes homens com suas pás, seus maços,
paro um momento à beira deles
para acender um cigarro. «Compadre,
tenho um irmão na Angola!» E nada sabem
do gelo que nascia da tua boca.
Levo outro amor mais claro do que o teu.
Não te recordo já: talvez morresses
antes de seres memória, chuva, e a noite.
Fernando Assis Pacheco, "Cuidar dos Vivos" (1963),
In A Musa Irregular, Lx: Ed. Asa, 1996, 2ª ed.
(Um dia, quando ganhar coragem, também hei de escrever
sobre a "minha" estrada de Elvas...)
esmagam a tua memória sem sentido.
É o Inverno em Borba, não recordo
quase nada de ti. Vejo o trabalho
destes homens com suas pás, seus maços,
paro um momento à beira deles
para acender um cigarro. «Compadre,
tenho um irmão na Angola!» E nada sabem
do gelo que nascia da tua boca.
Levo outro amor mais claro do que o teu.
Não te recordo já: talvez morresses
antes de seres memória, chuva, e a noite.
Fernando Assis Pacheco, "Cuidar dos Vivos" (1963),
In A Musa Irregular, Lx: Ed. Asa, 1996, 2ª ed.
(Um dia, quando ganhar coragem, também hei de escrever
sobre a "minha" estrada de Elvas...)
sábado, 12 de janeiro de 2013
Zangam-se as comadres?! Não, ainda não é desta...
Ao 1º embate tudo parece perdido:
Carlos Moedas acha o relatório do FMI (ver aqui) "muito bem feito".
Carlos Carreiras, autarca do PSD
pede a demissão do secretário de Estado Adjunto.
Pedro Mota Soares diz que o documento "tem pressupostos errados".
(Ler notícia aqui)
Ler notícia aqui |
Mas depois, pensando melhor...
Ler notícia aqui |
Não, afinal ainda não é desta...
Ler notícia aqui |
Claro, há sempre uns que levam mais tempo a perceber a mensagem...
Ler notícia aqui |
sexta-feira, 11 de janeiro de 2013
quinta-feira, 10 de janeiro de 2013
Novas e ainda melhores maneiras de holocaustizar a função pública
Imagem daqui |
O tão falado relatório encomendado pelo governo ao FMI, e certamente pago a peso de ouro, sugere a realização de um exame nacional online para decidir que funcionários públicos serão dispensados. Será que a Lagarde y sus muchachos não conseguem fazer melhor do que isto? Exames nacionais?! Ou seja, lá se vão contratar mais umas largas dezenas de consultores, assessores, amigos de amigos e especialistas vários para poder levar a coisa para a frente. Claro está, todos bem pagos com o tal dinheiro que o estado tanto quer poupar. (Já deve é andar por aí muito jotinha a esfregar as mãos de contente...) Para já não falar do descalabro que seria depois esse outro "tesourinho" nacional chamado "rankings", divulgado a seguir à publicação dos resultados...
Podiam era ter-me perguntado a mim, que eu, inteiramente de borla e apenas pelo prazer que tenho em ajudar este governo de géniozinhos precoces para o qual trabalho com tanto gosto e motivação todos os dias da minha vida, teria dado um montão de sugestões bem melhores e que colheriam certamente muito maior receptividade por parte da "opinião pública".
Aqui deixo apenas algumas possibilidades:
1. funcionários públicos a participar em larga escala num concurso do formato "Decisão Final", naturalmente apresentado pelo Malato (isso era conditio sine qua non), onde os ditos iriam caindo no 'vazio' um a um para grande gáudio dos espectadores, enquanto o público no estúdio aplaudia tudo freneticamente.
2. outros tantos a integrarem o casting de um reality show em horário nobre, do tipo "Casa dos Segredos", animado pela etérea Teresa Guilherme, e de onde seriam 'expulsos' com a ajuda da televotação do público.
3. mais umas dezenas de milhares a ouvir até ao fim o anúncio da Samsung com o grande "deseijo da Flipa Xaviere p'ra dois mil e treuze de possuire umamálaChánele" - e ser depois levado para a ala psiquiátrica de um qualquer hospital público em estado catatónico. Sim, porque o estado é 'social' e não abandona assim os funcionários públicos aí nas ruas da amargura...
Não posso deixar de sublinhar que estas soluções têm ainda o grande mérito de deixar o governo com as mãos totalmente limpas, pois tudo correria por conta de terceiros, como convém nestas melindrosas matérias do "corte das gorduras do estado". para já não falar do quanto o povinho andaria entretido, deixado assim alguma margem para manobras governativas tão ou mais brilhantes ainda do que estas (se é que tal é possível...).
Fico, pois, à espera de ver a Lagarde a fazer melhor do que isto! E à borla, ainda por cima...
E a palavra do ano 2013 será?...
Em 2012 foi...
e, face ao que agora veio a público (ver aqui), até já me parece que não foi assim um ano tão ruim quanto isso.
Ainda janeiro não vai a meio e sobre qual será a palavra do ano 2013 também não me restam muitas dúvidas: fodido.
quarta-feira, 9 de janeiro de 2013
terça-feira, 8 de janeiro de 2013
Fábula para adormecer inquietações
Santana do Campo; janeiro 2013 |
De Esopo conta a fábula
que a tartaruga só folgou
depois de, perseverante,
vencer em corrida
a lebre espertalhona.
Neste lugar se conta a história
de uma certa árvore com carapaça que,
à beira do caminho e
sem nada saber dessas
narrativas antigas,
espreguiça os ramos ao sol
enquanto as lebres mecânicas
correm velozes tentando vencer
até a própria dor.
Rindo-se de tais pressas inúteis,
a velha árvore, sábia, encolhe os ombros,
ajeita a casca e murmura:
Correr para quê, se a dor não foge,
ou sequer adormece com cantos de pássaro?
Melhor mesmo é deixar endurecer
a carapaça ao sol da manhã,
garantir que por aqui a dor não passa.
Só o tempo e muito devagar.
segunda-feira, 7 de janeiro de 2013
Frases de cabeceira - 16
"... o facto de até hoje não termos conseguido nem sequer identificar com perdurável certeza os nossos próximos entre a multidão dos alheios, vem demonstrar, se era preciso, o que por tradição sabíamos, que a dificuldade de realizar o simples sobrepassa em complexidade todos os ofícios e técnicas, ou, por outras palavras, é menos dificultoso conceber, criar, construir e manipular um cérebro electrónico do que encontrar no nosso próprio a simples maneira de ser feliz."
José saramago, In História do Cerco de Lisboa,
Lx: Ed. Caminho, 1989
domingo, 6 de janeiro de 2013
Regresso au lugar da Pedra das Gamelas
À hora em que as estevas acordam para o sol da manhã, regresso ao
caminho de terra batida que serpenteia pelos campos empapados de água, onde os
pés se afundam na lama verde da vegetação despontada, para contemplar a grande
pedra como se ela estivesse ali à minha espera. Volto a sentir no ar que aqui se
respira uma vibração própria, um murmúrio ininteligível que só acrescenta fascínio à beleza deste lugar. E a toda a volta um silêncio feito da ausência dos
pássaros que ainda não chegaram trazendo a inflorescência primaveril nas asas.
Altar sacrificial por onde
o sangue inocente corria, dizem, para aplacar os caprichos dos deuses - ou
talvez apenas as faltas humanas -, coberta de cicatrizes antigas por onde escorre
agora um musgo viscoso como sangue espesso. Ou talvez apenas um
grande cálice quase natural, para recolha da chuva purificadora que abençoa os campos e a vida dos
homens que neles labutam.
Ao certo, só sei que esta pedra velha como o mundo, parada à beira do caminho, não é igual a
nenhuma outra e isso basta-me. Trepo pelas saliências do seu dorso arredondado e,
devagar, toco com a mão no rebordo da gamela maior como se ali pudesse
depositar o desconcerto desta dor de andar perdida em corpo alheio e em tempos sempre irremediavelmente desencontrados. Não ficaria
para ver, mas sei que gotejaria devagar pelo torso granítico até se misturar com a terra e ficar só uma pequena cicatriz quase
invisível no fundo irregular da concavidade.
Desço e volto a olhar a grande pedra, quase reconhecida pela sua
generosidade ancestral de aceitar o que os homens já não querem ou não suportam
mais. Regresso então a casa, e a mim, trazendo só na memória o cheiro resinoso das
estevas que rebentam de verde. E quase ágil de tão mais leve.
Santana do Campo; Pedra das Gamelas; janeiro 2013 |
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