domingo, 27 de janeiro de 2013

Sala de espera













É a sétima hora de espera num mundo
que parece estar dividido em dois
pela porta do bloco operatório que,
ao fundo do corredor, faz fronteira
entre a ansiedade dos que aqui
esperam e o tempo suspenso das
notícias sobre os que aqui são esperados.

O olhar vai percorrendo todos os pontos
possíveis da sala até ser inevitavel fixar-se
no televisor suspenso no canto superior direito
e que parece funcionar tão ininterruptamente,
como o próprio hospital. A estridência das
vozes e das cores que se sucedem no ecrã
a um ritmo imparável agudiza a exasperação
de não poder mais do que ficar aqui, parada,
à espera. Mas é apenas ao vai-e-vem
das batas brancas, caminhando a espaços
irregulares pelo corredor, que o olhar está atento.

Lentamente se escoa a sétima hora
desta espera e o vento da inquietação começa
a assobiar baixinho por dentro de mim. E,
como se a memória fosse um livro pop-up,
é de repente o cheiro a restolho da tua pele
que me invade os sentidos. Fecho os olhos
e percorro-te o corpo como quem procura
um refúgio para fintar a tempestade.

Revejo agora a ânsia com que,
em certos momentos, as nossas mãos
se procuram para entrelaçar os dedos
(talvez, na voragem de estarmos
dentro um do outro tenhamos medo
de nos perder - não um do outro -,
mas um no outro). E também
esse audível latejar do sangue
nas artérias... minhas? tuas?

Prestes a terminar a sétima hora
desta espera ainda sem fim à vista
percebo como, quase sem dar por isso,
é no teu corpo que tenho vindo a construir
a minha sala de pânico. E como corro
o sério risco de, um dia, lá ficar fechada.

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