Cilindros ao longo do asfalto
esmagam a tua memória sem sentido.
É o Inverno em Borba, não recordo
quase nada de ti. Vejo o trabalho
destes homens com suas pás, seus maços,
paro um momento à beira deles
para acender um cigarro. «Compadre,
tenho um irmão na Angola!» E nada sabem
do gelo que nascia da tua boca.
Levo outro amor mais claro do que o teu.
Não te recordo já: talvez morresses
antes de seres memória, chuva, e a noite.
Fernando Assis Pacheco, "Cuidar dos Vivos" (1963),
In A Musa Irregular, Lx: Ed. Asa, 1996, 2ª ed.
(Um dia, quando ganhar coragem, também hei de escrever
sobre a "minha" estrada de Elvas...)
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