terça-feira, 6 de setembro de 2011

A crise: uma conveniente mi(s)tificação?

Vamos por partes: os noticiários estão entupidos de notícias e reportagens alargadas sobre pessoas e famílias em dificuldades devido à crise, ou seja, ao sobrendividamento, ao desemprego, aos problemas familiares, ao aumento brutal do custo de vista, à diminuição ou extinção dos subsísios e ajudas do estado, etc. etc. Nomeiam-se instituições de solidariedade também elas já com dificuldade em dar resposta a tanta gente. Todos os dias o (des)governo anuncia solenemente mais cortes nos financiamentos, novos aumentos de impostos ao consumo e muitas outras medidas restritivas que, mais do que condicionar, nos vão infernizar a vida nos próximos tempos, justificando-as com a vontade de ir ainda mais além do que a troika nos exigiu.

E contudo, nunca os ricos foram tão ricos (ver aqui). Os Bancos, esses coitadinhos a quem o estado acha que deve dar os milhões dos nossos impostos,  e apesar da crise que está a afectar a economia a nível global (dizem eles), continuam a apresentar lucros espantosos (ver aqui).

As maiores empresas portuguesas, estranhamente,  não param de crescer e algumas - Sonae, Jerónimo Martins, etc. - para tentarem ganhar terreno sobre as concorrentes dão-se até ao luxo de gastar milhões em campanhas publicitárias agressivas e contínuas (ver aqui).

As grandes empresas, incuindo as do estado, continuam a pagar ordenados milionários aos seus gestores, para além de outras benesses, como se nada se passasse.

As não sei quantas publicações da imprensa cor-de-rosa tiveram dificuldade em arranjar espaço para noticiar e divulgar tantas festas de verão nos sítios mais "in" do país, as viagens, os looks mais ou menos extravagantes, mas sempre com griffe, os bólides do momento, etc. etc. dos socialites mais ou menos oficiais cá do sítio.

Parece sempre haver espaço e público para mais um festival de verão, ou dois, ou três, ou várias dezenas. Parece haver sempre clientela mais do que suficiente para encher os sítios mais "in" do momento: restaurantes de luxo, bares, discotecas, etc. etc.

Não será de nos interrogarmos: Mas qual crise, afinal? Não será tudo isto, sobretudo, uma grande mi(s)tificação, arranjada por quem está interessado em acabar com o estado dito social e com a classe média tirando-lhe tudo aquilo que, com tanto esforço e luta, ela tinha conseguido nestas últimas décadas? Não estaremos a construir uma sociedade em que os que tudo têm farão a caridadezinha de ajudar, de vez em quando (quando estão bem dispostos), os que tudo perderam?

Se não quer ser social, não estou muito bem a ver para serve então o Estado, ou melhor, este Estado que nos suga até ao tutano em nome do bem comum(!?) para, depois, nos dar um valente pontapé no traseiro e nos mandar bater à porta das instituições de solidariedade social. Se é assim, bem podíamos escolher um qualquer outro sistema de governação: o feudalismo, por exemplo. Na prática, se calhar, até não ficava muito diferente daquilo com que vamos ficar lá para 2013.

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