Entrevista
Telefonam-me do jornal:
- Fale de amor-
diz o repórter,
como se falasse
do assunto mais banal.
- Do amor? - Me rio
informal. Mas
ele insiste:
- Fale-me de amor-
sem saber, displicente,
que essa palavra
é vendaval.
- Falar de amor? - Pondero:
o que está querendo, afinal?
Quer me expor
no circo da paixão
como treinado animal?
- Fala...- insiste o outro
- Qualquer coisa.
Como se o amor fosse
“qualquer coisa”
prá se embrulhar no jornal.
- Fale bem, fale mal,
uma coisa rapidinha
- ele insiste,como se ignorasse
que as feridas de amor
não se lavam com água e sal.
Ele perguntando
eu resistindo,
porque em matéria de amor
e de entrevista
qualquer palavra mal dita
é fatal.
Affonso Romano de Sant'anna
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