Setembro começou com trovões - ora longínquos, ora mais próximos - e uma chuva densa e fresca como se alguém, lá em cima, andasse a arrastar móveis para poder lavar muito bem o chão das nuvens de toda a poeira acumulada durante o verão. Uma espécie de "grande limpeza" natural que deixou um ar mais límpido, carregado de aromas silvestres, uma frescura que arrepia a pele e uma luz coada pelas nuvens cinzentas e pesadas. Mas, nestas primeiras chuvas de final de verão, há sobretudo qualquer coisa de suave, pungente e sinestésico que nos invade e nos arrasta para uma espécie de limbo quieto e nostálgico ao mesmo tempo.
Passei o dia em casa a organizar coisas dispersas e, sobretudo, a rasgar muitos dos papéis que se foram acumulando em camadas desiguais ao longo dos últimos meses, sempre com música de fundo para disfarçar a angústia deste reencontro intencional com as pequenas memórias desiguais de um tempo ainda recente.
Porém, como as grandes limpezas e arrumações sempre me pareceram uma manifestação exterior da vontade interior de mudar alguma coisa, espero bem que esta minha arrumação inicial e mental de setembro seja um prenúncio positivo.
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