I
Uma dor fina que o peito me atravessa,
A escuridão que envolve o pensamento,
Um não ter para onde ir cheio de pressa,
Um correr para o nada em passo lento,
Um angustiante urgir que não começa,
Um vazio a boiar no alheamento,
Uma trôpega ideia que tropeça
No vácuo de um estranho abatimento.
É tédio? É depressão? Talvez loucura?
É, para um além de mim, passagem escura?
Um ir por ir que não tem outro lado?
É, sem máscaras, a esperança enfim deposta,
Ou no extremo da verdade exposta
A ironia feroz de um deus calado?
Natália Correia, Sonetos românticos, (1990),
Lx: D. Quixote, 2011
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