Durante a silly season andei a ver os programas de Sophie Dahl e a sua engraçada mistura de livros, emoções e comida, sempre num cenário cheio de objetos vintage e até algo´anacrónicos, mas de um charme insuperável. Não resisti a comprar o livro, claro, mais pelas engraçadas e despretensiosas histórias de uma infância feliz, das viagens e aventuras da adolescência ou dos insólitos episódios da vida de uma modelo internacional, do que propriamente pelas receitas "voluptuosas"(como promete o título) e um pouco esdrúxulas de Miss Dahl. Há no entanto uma mão cheia delas que, a seu tempo, não me escaparão, a começar por uma outonal sopa de castanhas e cogumelos. Mas adiante...
O livro abre então com estas duas frases: "Para Jamie, em cuja mesa gostaria de envelhecer. Com todo o meu amor." Mais do que uma dedicatória é clara e assumidamente uma declaração apaixonada. E é também uma boa definição daquilo que é, ou deveria ser, o amor. Porque é assim mesmo. Tudo ou nada. De corpo e alma. Com voracidade e sem mas, ses ou porques. Sobretudo, sem hesitações e sem limites. E sem pré-conceitos, juízos de valor ou condicionantes. No fundo, aquilo que Magritte representou no seu "Les amants": o casal que, de olhos vendados, dá o passo irreversível na direção um do outro. O passo que até pode conduzir ao abismo, mas que se dá apenas porque é imperioso dá-lo. Apenas porque sim. Um leap of faith.
O livro abre então com estas duas frases: "Para Jamie, em cuja mesa gostaria de envelhecer. Com todo o meu amor." Mais do que uma dedicatória é clara e assumidamente uma declaração apaixonada. E é também uma boa definição daquilo que é, ou deveria ser, o amor. Porque é assim mesmo. Tudo ou nada. De corpo e alma. Com voracidade e sem mas, ses ou porques. Sobretudo, sem hesitações e sem limites. E sem pré-conceitos, juízos de valor ou condicionantes. No fundo, aquilo que Magritte representou no seu "Les amants": o casal que, de olhos vendados, dá o passo irreversível na direção um do outro. O passo que até pode conduzir ao abismo, mas que se dá apenas porque é imperioso dá-lo. Apenas porque sim. Um leap of faith.
René Magritte: Les Amants, 1928, óleo s/ tela |
Tu e eu meu amor
meu amor eu e tu
que o amor meu amor
é o nu contra o nu. Nua a mão que segura
outra mão que lhe é dada
nua a suave ternura
na face apaixonada
nua a estrela mais pura
nos olhos da amada
nua a ânsia insegura
de uma boca beijada.
Tu e eu meu amor
meu amor eu e tu
que o amor meu amor
é o nu contra o nu.
Nu o riso e o prazer
como é nua a sentida
lágrima de não ver
na face dolorida
nu o corpo do ser
na hora prometida
meu amor que ao nascer
nus viemos à vida.
Tu e eu meu amor
meu amor eu e tu
que o amor meu amor
é o nu contra o nu.
Nua nua a verdade
tão forte no criar
adulta humanidade
nu o querer e o lutar
dia a dia pelo que há-de
os homens libertar
amor que a eternidade
é ser livre e amar.
Tu e eu meu amor
meu amor eu e tu
que o amor meu amor
é o nu contra o nu.
Manuel da Fonseca, "Eu e tu meu amor",
in Poemas para Adriano, 1972
Ou como Alain Resnais filmou em 1959:
E ainda que não dure para sempre, ainda que, no final, traga dor e deceção; ainda que à partida já saibamos da inevitabilidade disto tudo, ainda assim, "O amor meu amor / é [mesmo] o nu contra o nu", em todos e cada um dos seus instantes únicos, irrepetíveis e, acima de tudo, verdadeiros porque, no fim de contas, só eles - os verdadeiros instantes do amor - contam. O resto é paisagem indistinta e cinzenta.
René Magritte: Les Amants, 1928, óleo s/ tela |
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