Dante Gabriel Rossetti: Roman de la rose; 1864 |
São rosas desfolhadas pela noite
as oferendas que faço ao meu amor.
São raivas soterradas as palavras
que segredo velando o meu amor.
Os gestos são de medo, os do afago.
E a secreta angústia do desejo,
a porta que me fecha para a vida.
São rosas desfolhadas meu amor.
São raivas soterradas meu amor.
Amor de carne,
pasmo de sangue a revelar-me a ferida
na luta de encontrar para perder,
furor que me devolve corpo a corpo
ao espaço onde não ter é ter chegado,
de olhos fendidos e com dedos ocos,
em frente ao sonho sem saber sonhar.
Em ti, amor, procuro
e, em ti, abraço o que me foge
pois bem sei, meu amor, amante amor
que ao nos amarmos nós queremos ser
de nós o que em vão ser nos destruísse.
E bem sei, bem sei, fêmea de mim,
que num e noutro só sabemos ver
o que de nós em nós não tem lugar.
E és para mim, bem sei, todo o mistério
e eu sou a busca dele que te procuro
pelo caminho que o teu corpo afirma.
Amor,
desgosto só de me não seres
que eu guardo e quero e peço
neste vão abraçar-te solitário
pra sem mim ir sugando a tua carne
pra sem ti ir fingindo a minha vida
as oferendas que tive e desfolhei
as rosas derramadas pela noite.
Hélder Macedo
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