a casa dos mortos não tem telhado,
apenas muros e, todos os dias, ao anoitecer,
é o último vivo a sair quem fecha a porta
às vezes recebe visitas que trazem flores
às vezes recebe visitas que trazem flores
a sua garridice mancha de cores desordenadas,
violentas, o mármore das lápides
perturbando a branca e alinhada geometria da pedra
por alguns dias
entardece agora
e um grande silêncio, muito sereno, paira sobre tudo
- até os gestos que compõem as jarras parecem mais lentos
a pressa não faz aqui sentido
pois o tempo dos mortos é a eternidade
e o silêncio a sua linguagem secreta
morrer não é ter de ficar calado para sempre
é, pelo contrário, já não ter que responder
a nada, nem a ninguém
2 comentários:
Bom poema
gosto muito
Obrigada, Platero.
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