Nos canais televisivos
há mau tempo. Ciclones.
Cultura em preservativos.
Muitos filmes dos camones.
Nos canais televisivos
devíamos ter o rosto
coberto com adesivos
mas temos sorrisos vivos
de um senhor muito bem posto.
Nos canais televisivos
pasmam-se noites inteiras.
Dão-nos como aperitivos
folhetins rebarbativos
para as angústias caseiras.
Há mau tempo nos canais
que entopem com porcaria.
Apascenta-se a manada
nos pastos da nostalgia.
E lá vem dia após dia
(de uma forma descarada)
a brilhante apologia
da morte ressuscitada.
Sessões de necrologia
sempre à hora programada.
Nos canais televisivos
fazem-se mesas-redondas
sobre cultura quadrada.
Diz-se uma boa piada
quando a conversa se afunda.
Nos canais televisivos
ameniza-se a tristeza
num jogo sensacional
em que ganha Portugal
por duas bolas a uma.
E depois desta proeza
não há pobreza nenhuma!
Por dentro destes canais
de anemia encaixotada
a mentira é por demais
uma verdade adiada.
Há telepublicidade.
Telefoto. Teledisco.
Teledor. Telejornal.
Tele-etcetra e tal.
Mas diz o telechovisco
que há bom tempo em Portugal.
Joaquim Pessoa, In Amor Combate,
Litexa, 1985
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