segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Questões de género

Vistas pelo poeta - homem:

"...
O homem faz amor
para se sentir bem.

A mulher faz amor
quando se sente bem.

Uns falam.
Outros apenas fogem do silêncio.

Uns amam.
Outros de si mesmos escapam."

Mia Couto, "Falas de Uns", In Tradutor de Chuvas,
Caminho, 2011

Vistas pela sexóloga - mulher:

"É legítimo perguntarmo-nos se a banalização, o excesso, não leva a que as pessoas se tornem mais insatisfeitas, mais à procura da intensificação da experiência. Numa lógica consumista, faço com o sexo o que faço com os carros ou com os restaurantes: quero cada vez mais o extremo, o que me dá as sensações mais fortes. Para elas, o sexo continua a ser o caminho a percorrer para chegar ao afecto e à relação companheira? Eles têm de as entreter com bazófia amorosa para chegar ao que verdadeiramente querem, o sexo? Esta visão maniqueísta, redutora, deixou de vigorar ou não?
Há um cartoon que resume isso: "Faço sexo porque te amo, amo-te porque fazemos sexo". O tipo ama a mulher porque faz sexo com ela, ela faz sexo com ele porque o ama. Se desmontarmos isso, temos de perguntar: a mulher que quer um amor companheiro, tem que ser para a vida toda? E se o sexo deixar de ser bom, quer ficar na mesma? O que é que espera disso? Se calhar uma mulher de 40 anos já não está à espera de ter uma grande vida sexual, porque não é representada nem se vê a ela própria como uma bomba que vai ter sexo muito bom."

Patrícia Pascoal,excerto da entrevista "Se o sexo deixar de ser bom, quer ficar na mesma?", In Pública, 14/8/2011.

Pelo meio, por causa desta mesma questão, tanta gente (dos dois géneros) à procura do fio de Ariadne para se orientar no labirinto do ser e do parecer.

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