Que as palavras têm modas já se sabe há muito tempo. Mas o inverso também não deixa de ser verdade. E a principal “moda” dos dias que vivemos é justamente a da crise financeira em que estamos mergulhados e as formas de tentar combatê-la. Tenho ouvido atentamente os discursos, as análises mais ou menos aprofundadas e amplificadas pelos media, tanto dos tudólogos e opinion makers nacionais, como do próprio governo.
Tornou-se recorrente nestes últimos tempos a expressão “emagrecer o estado”. Para isso, dizem-nos que é imperioso “poupar”, “cortar” e, sobretudo, “cobrar”. Reiteram a necessidade de reduzir a “gordura” do estado e de fazer muita “ginástica financeira” para conseguir “equilibrar” as finanças públicas. Referem ainda a necessidade de “agilizar” certos procedimentos legais como o despedimento de trabalhadores e funcionários e alguns argumentam que é preciso também ter uma máquina fiscal “bem oleada”. Um dia destes, certo administrador falava até em “economia musculada”. Ora, qualquer pessoa que se preocupe minimamente com a sua forma física ou que, para a recuperar, já tenha sido forçado a fazer uma dieta ouviu muitas vezes estas mesmas palavras e expressões. Assim, parece-me legítimo concluir que o “novo” governo:
a) anda mas é a fazer tratamentos estéticos à pele e não a tratar a fundo os reais e verdadeiros problemas da economia nacional.
b) contratou até uma espécie de fashion-adviser que recomendou a eliminação das gravatas no ministério da agricultura como forma de disfarçar a existência da tal gordura acumulada sob o queixo, evitando assim que tenham de fazer a “dieta” necessária para a sua eliminação definitiva.
Pelo que vejo e ouço receio bem que o estado não ande a fazer a si próprio mais do que um daqueles tratamentos estéticos não-invasivos – liftings e lipo-aspirações – que custam uma pipa de massa e cujos resultados, por serem transitórios, vão obrigar à sua repetição periódica. Bem podemos nós ir poupando para os conseguirmos pagar. E é também por isso que o estado nos quer ver a todos de banda gástrica (o que nós vamos poupar em comidinha!) e vai logo avisando que o mais provável é termos de vir a fazer um bypass gástrico. É que isto dos tratamentos estéticos não invasivos é só para alguns. Para nós, é mesmo à bruta.
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