Tudólogos e outros especialistas todo-o-terreno têm agora tempo de antena diário nos media - mais, bem mais que os canónicos 15 minutos - para nos explicar o que o país tem de fazer para sair da crise. Só ainda ninguém percebeu é por que razão não se faz isso mesmo, mas enfim... Quase todos acham que a solução é exportar mais e aumentar o consumo interno de produtos made in Portugal para aliviar os custos das importações.
Ao longo do tempo, várias entidades, organismos, institutos públicos e afins foram surgindo - com financiamento do Estado - para cumprir a patriótica missão de publicitar e divulgar a marca «Portugal» cá dentro e sobretudo lá fora, na tentativa de fazer crescer as exportações. Duvido é que alguém saiba ao certo quanto dinheiro tem sido gasto pelo Estado neste tipo de publicidade, menos ainda que alguém tenha a noção exacta da relação custos-benefícios e do seu impacto real na nossa economia, como é o caso da estridente e vistosa campanha "Allgarve".
Certo e que os slogans foram aparecendo: uns mais oficiais, como "o que é nacional é bom" ou o "compro português", outros menos oficiais, amplificados e potenciados pela net e pelas redes sociais, como é o caso do "Movimento 560" com o código de barras. Há até livros especializados onde se analisam à lupa as estratégias promocionais da «marca Portugal» e as respectivas falhas. É o caso deste, cuja capa pisca deliberadamente o olho aos pequenos anúncios da imprensa para despertar a curiosidade dos potenciais leitores:
No entanto, alguns anúncios reais têm sido publicados em jornais portugueses. Embora anónimos, são certamente escritos e pagos por cidadãos que escolheram esta forma sarcástica e muito peculiar de expressarem o seu descontentamento com a situação actual e, sobretudo, com a classe política que nos (des)governa. Tenho conhecimento de dois, mas é provável que haja mais:
Vistos apenas pela perspectiva do humor há que reconhecer que até não somos um povo assim tão sorumbático e triste como às vezes parecemos. Já na perspectiva da cidadania demonstram que, afinal, não andamos assim tão alheados das coisas quanto nos querem fazer crer, bem pelo contrário: estamos conscientes da origem dos problemas que nos afligem e temos um apurado sentido autocrítico. Nada de grave, portanto. Apenas bizarro.
Grave mesmo é perceber como, à conta da crise, andam por aí alguns a pensar em fazer o que os ditos anúncios propõem, achando ainda por cima que lhes ficamos a dever um grande favor. Veja-se, a este propósito, a esclarecedora reacção dos mais ricos do país à proposta de um eventual imposto especial que pudesse contribuir para minorar as dificuldades que atravessamos... (ler aqui). Extraordinário, de facto. O mínimo que se pode dizer é que a este senhor ninguém deve ter contado a história da galinha dos ovos de ouro quando era criança, ou então não a percebeu, coitado...
Penso que não há razões para temer quem anuncia a espalhafatosa «venda» de Portugal na imprensa, como se de um apartamento se tratasse. Há é razões para temer quem, sem anúncio prévio, vende até a própria alma, se disso puder tirar proveito pessoal, quanto mais o país.
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