A velha mania de acharmos que as coisas, apesar dos pesares, ainda podiam ter sido piores, sempre me irritou pelo fatalismo paralisante que lhe está implícito. Como se tivéssemos que aceitar tudo, mas mesmo tudo, porque, afinal, podia sempre ser ainda pior. Embora seja um esquema de pensamento muito português não é exclusivo nosso, não. A prova disso é esta imagem que recebi um dia destes por mail:
Provavelmente, espera-se que o receptor desta mensagem - um autêntico tratado das desgraceiras mundiais - fique muito contentinho com o que tem e se aquiete, não pensando sequer em exigir mais porque assim já está muito bom, sobretudo quando comparado com o resto do mundo. E já agora que deixemos também o resto do mundo muito quietinho a tentar acomodar-se com as suas próprias desgraças, até porque nós também temos as nossas.
Pois lamento, mas o facto de estar entre os não sei quantos por cento mais afortunados do mundo numa série de categorias não faz de mim uma pessoa mais feliz, nem sequer mais apaziguada com a triste realidade sócio-política do país em que vivo e as tremendas e monstruosas injustiças do mundo à minha volta. Bem pelo contrário!
Só lamento é que se ache «normal» fazer circular aí pela internet e pelas redes sociais estas futilidades, como se de um simples passatempo de férias se tratasse, ficando todos muito contentinhos por ter recebido e (re)passado as ditas, e estando-se todos nas tintas para a dolorosa realidade que elas representam. Ainda prefiro passar o meu tempo de outro modo, apesar de tudo.
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