Num tempo em que as questões de género voltam a ser discutidas e são mesmo objecto de formação académica, relembro um texto publicado em 2007, pela socióloga Maria Filomena Mónica, intitulado "As mulheres portuguesas são parvas". Nele se discorre de modo acutilante sobre a situação das mulheres na sociedade actual: De certa forma, o destino das raparigas na casa dos trinta ou quarenta anos corre o risco de ser pior do que o meu. Quando casei, o que de mim se esperava, além da procriação continuada, era que passasse o dia a arrumar a casa, a cozinhar pratos requintados e a vigiar a despensa. Hoje, a estas tarefas vieram juntar-se outras. As mulheres modernas são também supostas ser boas na cama, profissionais competentes e estrelas nos salões. Mas isto é uma utopia. Nem a mais super das supermulheres pode levar as crianças à escola, atender os clientes no escritório, ir à hora do almoço ao cabeleireiro, voltar ao escritório onde a espera sempre um problema urgente, fazer compras num destes modernos supermercados decorados a néon, ler umas páginas de Kant antes de mudar as fraldas do pimpolho, dar um retoque na maquilhagem, telefonar a três "babysitters" antes de arranjar uma, ir ao restaurante jantar com os amigos do marido, discutir a última crise governamental e satisfazer as fantasias sexuais democraticamente difundidas pelos canais de televisão. [claro que a combinação de tarefas varia fortemente em função do estrato social de cada uma, acrescento eu]
Sejamos claras e deixemo-nos de preconceitos feministas, que muito têm sido usados para que tudo continue na mesma, até por nós, mulheres, o que é ainda mais de lamentar: Ah, pois, já estou a perceber, afinal, também és feminista!...(rsrs), és das tais, que não gostam de homens (rsrs)!!!
Somos hoje mulheres mais formadas, mais cultas, com carreiras profissionais muito intensas mas, afinal, lá no fundo no fundo, continuamos a "servir" os nossos homens tal como as nossas avós e mães sempre fizeram no passado. Desgastamo-nos e envelhecemos precocemente a correr de um lado para o outro, para chegar de modo atempado, eficiente e "com ar fresco" a tudo e a todos. O que nos mantém de pé, ao fim de certos dias, é apenas a satisfação do dever cumprido, de termos mesmo conseguido fazer tudo, nada mais! Muitas vezes, nem sequer temos o prazer de ver reconhecido o nosso esforço quase sobre-humano. Mas sejamos francas: ninguém consegue manter este ritmo por longos períodos de tempo sem comprometer seriamente a sua saúde física e mental! E, quando precisamos de ajuda ou de apoio, descobrimos que eles não têm paciência nem tempo para nós. Limitam-se a olhar-nos com um sorrisinho sarcástico e a dizer que "estão cansados" ou, o que é ainda mais conveniente (para eles é claro!), "que não sabem lidar connosco", que somos "muito complicadas" e "exageradas". Claro que, como em tudo na vida, há excepções. Mas, infelizmente, na maior parte dos casos, elas continuam é a confirmar a regra...
A culpa disto, claro está, é exclusivamente das mulheres: não só continuamos a aceitar tácita e pacificamente este estado de coisas como, ainda por cima, continuamos a alimentar o sistema por dentro, ao educarmos os nossos filhos e filhas nestes valores e princípios velhos de séculos. Assim, será muito difícil que as coisas possam vir algum dia a mudar, de facto, na relação homem/mulher.
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