Às vezes abria o livro na pág. 17 e lia o poema, quase a medo, como quem formula um desejo secreto ou uma breve oração:
“Que os teus braços saibam sempre encontrar os caminhos do meu corpo...”
Agora, deste lado do muro intransponível que voluntariamente erguemos para cortar os caminhos que nos ligavam, abro o livro um pouco mais à frente, na pág. 26, e, com a minha voz, uma pequena clareira de som alastra no silêncio escuro da casa:
“Que os teus braços saibam sempre encontrar os caminhos do meu corpo...”
Agora, deste lado do muro intransponível que voluntariamente erguemos para cortar os caminhos que nos ligavam, abro o livro um pouco mais à frente, na pág. 26, e, com a minha voz, uma pequena clareira de som alastra no silêncio escuro da casa:
“Invoco-te para preencher o vazio das noites em que a solidão morde o meu corpo magoado. E deito-me, inventando-te, no espaço preciso da tua ausência.”
E de novo o silêncio, impassível, se apodera de todo o espaço. Para não o perturbar, a voz dentro de mim prossegue a leitura na pág. 27:
“...Pedaço a pedaço, dedo a dedo, arranco-te de mim como se olhasse um filho abortado e choro-te, as lágrimas escorrendo dos olhos, nunca um pranto, de mansinho, um luto definitivo como quem se despede de um amigo para sempre. Para sempre."
“...Pedaço a pedaço, dedo a dedo, arranco-te de mim como se olhasse um filho abortado e choro-te, as lágrimas escorrendo dos olhos, nunca um pranto, de mansinho, um luto definitivo como quem se despede de um amigo para sempre. Para sempre."
(poemas de) Tito Lívio, Senhor, Partem tão tristes, 2002
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