quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Terapia alternativa

As medicinas alternativas estão por todo o lado. As terapias, mais ou menos convencionais, também. O objectivo de todas elas é vencer ou, pelo menos, aprender a conviver mais pacificamente com o stress, a depressão, a insónia e afins, e evitar, tanto quanto possível, cair nos chamados "químicos" que nos roubam a alma e deixam como zombies. A musicoterapia, a dramaterapia e outras formas terapêuticas associadas a manifestações artísticas, começam pois a generalizar-se com resultados bastante animadores. Outros, contudo, preferem integrar oficinas de arte e dedicam-se à pintura, à escultura, à cerâmica ou à dança... Começam até a realizar-se sessões de karaoke terapéutico, durante as quais se espantam os males a cantar.

Serve este intróito apenas para dizer que há já quem esteja até a preparar tese de doutoramento sobre escrita terapêutica. Pensando um pouco naquilo que é a blogosfera não é nada difícil fazer a associação entre ambas: que são muitos blogues - a começar por este -, senão formas mais ou menos terapêuticas de conseguir aguentar o peso dos dias e das noites sem enlouquecer de vez?
Que são um número crescente de blogues, senão uma forma inteligente de arranjar tempo para si mesmo - o tempo da escrita -, para tentar entender o mundo estranho que nos rodeia?
Que são muitos blogues, senão uma forma de diálogo e de reflexão - tantas vezes brilhante, embora desconhecida do grande público - sobre temas banidos das conversas diárias com os outros, por manifesta falta de tempo ou de disponibilidade mental para isso?
Que são muitos blogues, senão uma forma de dizer que estamos aqui, que pensamos, que temos alma e coração, que queremos e sonhamos coisas, mesmo quando (ou sobretudo quando) o mundo parece não se dar conta de que existimos?
Que são muitos blogues, senão formas mais ou menos elaboradas de iludir a solidão?
Que são muitos blogues, senão o repositório da nossa esperança diária em manter a sanidade mental por mais algum tempo?
Que são muitos blogues, senão uma espécie de viagem à roda de si mesmo, uma forma barata, até ecológica (não se gasta papel) de auto-conhecimento e de auto-aprofundamento?

Parece-me mesmo que há já no vasto universo blogosférico abundante matéria para várias teses de doutoramento...


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