Estas palavras não são minhas, mas dizem-me tão bem, dizem com tanta força o que vai dentro de mim, que são minhas, também. Aliás, sempre me arrepiou e fascinou esta sensação de, subitamente, me encontrar comigo dentro de um poema - como se estivesse frente ao espelho, ou como se eu própria o pudesse ter escrito - e perceber até que ponto ele diz mais, e diz melhor, sobre mim mesma do que eu jamais seria capaz, nem que escrevesse mil páginas...
E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes
encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos.
David Mourão Ferreira, Matura Idade, Ed. Arcádia
E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes
encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos.
David Mourão Ferreira, Matura Idade, Ed. Arcádia
Sem comentários:
Enviar um comentário