sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Coisas que me abespinham, encanitam e irritam - XII

No meu dia-a-dia ouço frequentemente falar de "escola inclusiva". Nome pomposo para designar a escola pública que a todos acolhe (no que faz muito bem, diga-se). O problema é que, depois, não tem recursos humanos ou financeiros para poder dar a cada um segundo as suas necessidades. E o resultado não é difícil de adivinhar: em vez de incluir, acaba por cavar ainda mais o fosso das diferenças sócio-culturais.

Na justiça passa-se exatamente o mesmo. No papel, diz-se que é para todos e por todos. Na prática as coisas são como estas duas imagens claramente demonstram.

Imagens daqui e daqui

À esquerda, Duarte Lima, todo compostinho, a ser discretamente conduzido para a prisão de carro, resguardado o mais possível dos olhares indiscretos da populaça e dos jornalistas, como se estivesse a ser conduzido pelo motorista para mais um jantar de gala, nalgum restaurante da moda. Teve até direito a tempo de antena, em horário nobre, para defender a sua presumível inocência. À direita, Francisco Esperança, em iguais circunstâncias, descomposto, conduzido e subjugado por dois polícias musculados, exibido na rua para a populaça e para os jornalistas verem, numa espécie de freak show despudorado que os media têm explorado até à exaustão e que deixou o país à beira de um ataque de nervos.

Em comum têm as acusações de crimes sangrentos, cruéis e vis. Tão hediondo é o crime de um, como do outro, pois ambos mataram a sangue frio gente inocente, presumivelmente (como é de bom tom dizer-se). Só que um é milionário, enquanto o outro estava falido e desgraçado em toda a linha.

Talvez por isso, ninguém na polícia tenha pensado sequer duas duas vezes antes de sair para a rua com o homem naquele estado e condições. Talvez por isso, os media não se tenham coibido de mostrar uma profusão de imagens reveladoras da vida pessoal, tanto das vítimas, como do próprio assassino. Era gente pobre, por isso, podemos devassar à vontade. Já no outro caso não será bem assim, porque o dinheiro compra os meios necessários (segurança, discrição) para proteger a intimidade.

Ou seja, temos uma justiça para pobres e uma justiça para ricos. O mais grave é que este tipo de situações se tornou tão banal que poucos se apercebem da realidade.

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