quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Paisagem citadina

Maria Helena Vieira da Silva: Les grandes constructions;
1956; óleo s/ tela























A pele por fulgurantes
instantes muitas vezes abre-se até onde
seria impossível que exercesse
com tão grande rigor o seu domínio.

Não temos então dela senão rápidas
visões, onde os reclames
do coração se cruzam, solitários
e agrestes, reflectidos

por trás nos ossos empedrados.
Em certas posições vêem-se as cordas
do nosso espírito esticadas num terraço.

A roupa dói-nos porque, embora
nos cubra a pele, é dentro
do espírito que estão os tecidos amarrados.

Luís Miguel Nava, In Poesia Completa 1979-1994;
Lx: Publ. D. Quixote, 2002

Sem comentários: