domingo, 13 de maio de 2012

Hortejar não é preciso, mas a gente quer mesmo assim

Évora rendeu-se às chamadas "hortas sociais". A iniciativa municipal - que é um remake de uma outra tentativa feita nos anos 80, mas com fracasso total -  foi agora um sucesso (que será devidamente publicitado na campanha eleitoral do próximo ano, está bom de ver). Muita gente jovem, com formação superior e das mais variadas profissões, se inscreveu e obteve um lote para cultivar. O adjetivo "social" tem aqui, pois, um sentido bastante lato. As hortas da imagem situam-se mesmo junto ao Aqueduto, na entrada da cidade. O movimento é intenso e a imagem - feita perto das vinte horas e com futebol na televisão -, não faz justiça ao bulício que vai por ali durante todo o dia. Pode concluir-se que "está na moda" cultivar uma horta, até porque algumas das pessoas que se candidataram aos lotes não o fazem por necessidade económica, mas para quebrar a rotina e o stress. Talvez também pela novidade e porque, nesta, como noutras coisas, a televisão tem grande influência e, ultimamente, têm sido muitas as reportagens sobre  este tipo de iniciativas um pouco por todo o país.

Claro que as redes sociais também têm alguma coisa a ver com esta "onda hortícula". O Facebook, por exemplo, martela-nos diariamente o cérebro com mensagens e fotos apelativas e de apelo a que cultivemos, aproveitemos, reciclemos, recuperemos, etc. etc. Estes são alguns desses exemplos que, primando pela criatividade, também não ficam atrás em exagero, para já não falar da sua total (im)praticidade. Mas enfim, convenhamos que enfeitam lindamente qualquer mural do FB...



Imagens daqui
 
Para lá das motivações individuais, sem dúvida legítimas, certo é que deram vida a um terreno que há anos estava abandonado às ervas daninhas. Resta apenas saber quantos destes novos e entusiasmados hortelãos vão resistir à passagem do tempo (é que cavar faz mesmo doer as costas, para além de estragar as mãos!) e, quando os legumes estiverem prontos para colher, como é que vai ser num sítio tão acessível e exposto, delimitado apenas por uma rede baixa. Parece-me que não faltarão candidatos para fazer a colheita e, algures a meio do percurso, ainda devem entrar em ação os vândalos do costume, que muito se deverão divertir a destruir os canteiros alinhados e as verduras tenras... No entanto e pelo que vou observando, se as verduras não vingarem a socialização entre as pessoas que lá passam o seu tempo livre, essa, está garantida. Ao menos isso.

Évora -  Hortas Sociais; 12/5/2012

Tenho acompanhado com interesse e curiosidade a evolução destas hortas urbanas de Évora porque elas se situam, justamente, no percurso que faço para chegar à minha própria horta, criada e cultivada pelo meu pai durante mais de trinta anos e que está agora por minha conta. Sim, é que também eu fui contagiada pela ideia de sujar as mãos na terra.

Assim, não me surpreende este entusiasmo dos novos cultivadores, pois isto de pôr no solo e acompanhar o crescimento das plantas para ver no que dá é algo de muitíssimo viciante. Eu própria, há uns meses atrás, comecei de mansinho com três pés de framboesa (dos quais já só sobrevivem dois), dois de mirtilo e uns vasos de ervas aromáticas - tomilho, tomilho-limão, orégãos, manjerona, hortelã (a do ano passado foi devastada por uns malditos, embora lindos, escaravelhos negros de reflexos iridescentes que acabaram com ela em três tempos), poejos, estragão e erva-cidreira. Entretanto acrescentei abóboras de três variedades distintas, outras tantas variedades de tomates, seis pés de pimentos e tenho em casa vários mini-criadores com sálvia, beringelas e courgettes, todos à espera de serem transplantados para a terra quando estiverem em condições para isso. Além disso, ando a tentar arranjar um vaso de hortelã-da-ribeira - óptima para temperar peixe ou perfumar um arroz de tomate, por exemplo - mas não está fácil.

E como se não bastasse já, ainda plantei uma amendoeira que uns amigos me trouxeram do Algarve e meti caroços de nêspera (uma das minhas frutas favoritas) num vaso, a ver se consigo arranjar uma nespereira que, se não der fruta que preste é uma árvore de folha perene e lindíssima que todos os anos se cobre de flores brancas e maravilhosamente perfumadas. Vigio também um vaso com physalis que viajou desde Santarém até cá e está quase pronto para ser posto no chão. Entretanto, acompanho o crescimento dos figos e a floração das rainhas-cláudias plantadas pelo meu pai há muitos anos atrás e vou tratando das roseiras, regando os limoeiros e as laranjeiras. Para além disso, vi-me agora forçada a abrir uma frente de batalha contra as toupeiras e os ratos-cegos que começaram a banquetear-se com as raízes tenras das minhas abóboras e me ameaçam destruir todas as outras plantas e árvores...Ou seja, ando metida em trabalhos. E bem grandes! Só me resta saber até quando é que eu própria resisto à canseira e se as toupeiras me deixarão comer algum dos legumes que tenho andado a plantar. Quanto às hortas sociais,vamos esperar para ver no que dá.

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