Nos Estados Unidos a multidão corre para comprar vestidos de noiva, numa ânsia histérica amplificada anualmente pelos media. De repente, o supérfluo torna-se vital, como se a sobrevivência dependesse disso, e a loja transforma-se num campo de batalha: vence quem conseguir arrebanhar mais vestidos.
Por cá, há semelhanças e diferenças: os consumidores correm para o supermercado para comprar bens ditos essenciais como se não houvesse amanhã. Gente empobrecida à força pelo desemprego, pela redução dos salários e dos benefícios, pelo aumento da carga fiscal, pelo endividamento, enfim, pelas duríssimas medidas de austeridade. Gente que se viciou em gastar dinheiro em "pechinchas" de que, se calhar, até não precisa assim tanto e que, nas atuais circunstâncias, apresenta todos os sintomas de carência típicos de qualquer dependente. Gente descaradamente manipulada pela empresa que promoveu esta ideia peregrina no simbólico dia 1º de maio, para justificar a abertura dos hipermercados e para garantir, a todo o custo, que eles estariam bem cheios. Gente que, muito provavelmente, para poder beneficiar da promoção se endividou mais uma vez ou terá que deixar de pagar outras coisas para poder acomodar esta despesa extra. Gente que, acicatada pela histeria coletiva, perdeu nitidamente o controlo e a noção da realidade. Gente que nem sequer hesitou um segundo para pensar sobre o absurdo de tudo aquilo (basta ouvir as declarações prestadas aos jornalistas à saída das lojas). Gente que, devido às dificuldades económicas por que está a passar, se revela disposta a tudo. Pior, gente que está já disposta a aguentar tudo, até a mais constrangedora humilhação.
Mas a culpa não está apenas na gente atordoada que correu para a armadilha consumista. A culpa está em todos nós que, com a nossa indiferença e comodismo, permitimos que as coisas chegassem a este ponto. Este episódio grotesco acabou por ser também a justa medida da nossa consciência cívica e cidadania. Ou da falta dela. Talvez seja isso o que, lá no fundo, mais nos incomoda a todos desde ontem.
Em suma, este 1º de maio foi, portanto, um bom dia para o governo que assim percebeu que pode massacrar-nos com mais austeridade e perda de direitos adquiridos, pois nós já não estamos em condições de reclamar. (Não tenho dúvidas de que o ministro Gaspar telefonou logo ao Soares dos Santos a agradecer esta "prenda" inesperada).
Mas a culpa não está apenas na gente atordoada que correu para a armadilha consumista. A culpa está em todos nós que, com a nossa indiferença e comodismo, permitimos que as coisas chegassem a este ponto. Este episódio grotesco acabou por ser também a justa medida da nossa consciência cívica e cidadania. Ou da falta dela. Talvez seja isso o que, lá no fundo, mais nos incomoda a todos desde ontem.
Em suma, este 1º de maio foi, portanto, um bom dia para o governo que assim percebeu que pode massacrar-nos com mais austeridade e perda de direitos adquiridos, pois nós já não estamos em condições de reclamar. (Não tenho dúvidas de que o ministro Gaspar telefonou logo ao Soares dos Santos a agradecer esta "prenda" inesperada).
Este 1º de maio tornou-se agora um "estudo de caso" para psicólogos, sociólogos, economistas, analistas, juristas e afins. Muito terão para analisar e para discutir nos próximos tempos. Eu é que já não tenho paciência para os ouvir.
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