Don Tapscott é professor universitário e investigador na área das novas tecnologias. Tem vários livros publicados sobre o impacto da internet nos jovens e nas sociedade em que se integram. A sua mais recente investigação envolveu onze mil jovens de dez países e custou vários milhões de dólares. Numa entrevista concedida ao Público (P2, 7/7/10) Tapscott falou sobre a geração que cresceu com a net e os impactos que ela tem tido na nossa sociedade. E disse coisas de facto muito relevantes:
“Acredito que boa parte do impacto da revolução digital na forma como pensamos, colaboramos e trabalhamos ainda é desconhecido. Mas não concordo, em geral, [com quem defende que as novas tecnologias estão a criar cérebros preguiçosos, a diminuir a capacidade de atenção e de sociabilização].
(…)
Cada um de nós está a criar uma versão virtual de si próprio. E este eu virtual sabe mais sobre nós do que nós próprios, porque nós não nos lembramos do que dissemos há anos. Isto cria uma situação em que a informação pode ser usada contra a pessoa, nomeadamente pelo Estado. Nós não temos problemas, porque temos governos democráticos. Mas ainda sou do tempo em que não havia um governo democrático em Portugal.
(…)
Nos anos 1960 havia um fosso geracional. Havia grandes diferenças entre os estilos de vida, valores, música e ideias dos filhos e dos pais. (…) [Mas hoje] “O meu Ipod e o Ipod dos meus filhos têm muitas canções em comum. Já os meus pais nem sequer gostavam dos Beatles.Mas há potencial para um conflito de gerações. Há potencial para que uma geração expluda de uma forma que fará com que os anos 60 pareçam um piquenique. (…) É a geração mais esperta de sempre, é globalizada, tem ferramentas fabulosas. Se não tiver como ganhar a vida [40% de desemprego em Espanha], vai começar a questionar o funcionamento da sociedade.
(…)
“Temos um modelo de democracia com 100 anos: (…) O cidadão vota, o político governa. Isso está bem para a minha geração. Cresci a ver televisão 24 horas por semana, como todos os baby boomers. As escolas transmitiam-me informações e eu era um receptor passivo. (…) Cresci num modelo de família onde a comunicação funcionava num só sentido: dos pais para os filhos. Mas estes jovens estão a crescer de forma interactiva, habituados a colaborar e a serem activos.
(…)
O tempo que os jovens passam on-line (…) é roubado, sobretudo, à televisão. (…) Mas estão a ver menos e estão a ver de forma diferente. Têm o computador ligado e a televisão é música ambiente, ao fundo.
(...)
Quem passa 24 horas por semana a ser um receptor passivo de televisão tem um determinado tipo de cérebro. Quem passa esse tempo a ser um utilizador activo de informação, tem outro tipo de cérebro, que é um cérebro melhor, mais apropriado ao século XXI."
Ou seja, navegar na net, desde que sem os excessos que criam o perigo de alienação, é bom para o cérebro. E dotados de um melhor cérebro, seremos capazes de criar uma melhor sociedade?
Teremos que esperar para ver.
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