Em meados de Junho (17, mais precisamente), os líderes da UE assinaram com a usual pompa e circunstância a “Estratégia 2020”, a qual pretende ser um “Ponto de partida para uma nova ordem”, com um muito ambicioso objectivo final: tirar 20 milhões de pessoas da pobreza em 10 anos. Em Portugal estima-se que haja 4 milhões de pobres: destes, dois milhões lá vão navegando à vista, graças aos apoios do Estado ou das mais diversas IPSS, enquanto outros dois milhões já estão mesmo no limiar ou para lá do limiar da pobreza. E com taxas de desemprego a bater recordes europeus, muito mais gente para lá caminha. Isto, só em Portugal. Por essa Europa fora muitos mais milhões haverá. Sim, na Europa supostamente desenvolvida e rica há cada vez mais pobres e a faixa de população em pobreza extrema cresce anualmente a um ritmo assustador.
Mas, se olharmos para o mundo que nos rodeia - África, América Central e do Sul, muitos países da Ásia – onde a guerra permanente e a violência extrema fazem com que a vida humana pouco ou nada valha, a que se deve acrescentar um cortejo infindável de desastres naturais e de catástrofes mais ou menos anunciadas que tudo arrasam periodicamente, vemos mais ainda: gente que morre todos os dias aos milhares e à míngua de tudo.
Como é que se nivela a riqueza quase chocante de uns, de modo a diminuir significativamente a pobreza de outros? De onde virá o dinheiro necessário, não para erradicar a pobreza, o que seria uma utopia, mas para não deixar que ela atinja patamares que comprometam a sobrevivência de largas faixas de população, até mesmo em países desenvolvidos? Quem é que tem a coragem de tomar medidas políticas socialmente mais justas e equitativas para todos, mesmo que em desfavor mínimo dos grandes interesses económicos? Na verdade, como diz o slogan da campanha da Amnistia Internacional contra a pobreza: o problema não são os animais que vivem como pessoas, são as pessoas que vivem como animais. Ou seja, fazemos muitas vezes às pessoas o mesmo que aos animais: olhamos para o lado, fingimos que não vemos nada, assobiamos para o ar, ou então, como é prática corrente nos países mais ricos/desenvolvidos, pronunciamos belos discursos cheios de promessas, que toda a gente sabe que não serão cumpridas, mas pelo menos soam bem e, por isso, sossegam conciências, por natureza pouco inquietas.
Receio bem que, na actual conjuntura político-económica, à muito consensual, noticiada e referida “Estratégia 2020” se possa aplicar o repescado aforismo de Shakespeare - ser ou não ser (pobre), eis a questão - apenas para concluir depois que o melhor, de facto, é não ser, ou não vir a ser, pobre. Mesmo que se viva num país rico.
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