Agora, quando os meus alunos riscam as mesas novinhas em folha, partem ou entortam as cadeiras ou escangalham os estores, entre outros estragos possíveis, costumo dizer-lhes que estão a estragar aquilo que os netos deles ainda hão-de andar a pagar. Claro que eles ficam a olhar para mim incrédulos e com ar de quem está mas é a pensar que a professora, coitada, passou-se. Mas é mesmo assim. A ParqueEscolar EPE anda a endividar-se à grande na banca para poder fazer obras nas escolas – algumas vezes, como é o caso na minha, a destruir o que tinha sido construído de novo há dois anos -, de tal forma que o estado (via Min. Educação) já teve que lhe passar uma série de edifícios para as mãos para servirem de garantia nos empréstimos bancários (Av. 24 de Julho, Liceus históricos de Lisboa e do Porto, etc.) e sabe-se lá que mais património ainda terá que ser alienado para pagar a modernização faraónica do parque escolar nacional, a qual, segundo tem sido anunciado pelo nosse (des)governo ainda vai só no adro.
Isto mesmo foi confirmado por Álvaro Santos Pereira, actualmente professor de Economia na Simon Fraser University, no Canadá, numa entrevista que deu ao Expresso (17/7/2010): “A nossa situação [relativamente às agências de rating e aos mercados internacionais] é imultaneamente melhor e pior. É melhor porque acho que nem os mercados nem as agências de rating têm levado em consideração o nosso extraordinário sucesso económico no último meio século, nem sequer o facto de que Portugal foi um dos poucos países europeus sem crises bancárias significativas desde a Segunda Guerra Mundial. Mas é pior porque não sei se as agências de rating têm levado em linha de conta a dívida oculta do Estado (isto é, a dívida das empresas públicas, que não entra para as contas públicas), nem os compromissos das parcerias público-privadas. Ora, só a dívida das empresas públicas já ronda os 20% do PIB. E nos pagamentos das parcerias público-privadas vamos gastar quase 30% do PIB nos próximos 30 anos! A partir de 2013, os futuros governos terão uma factura de 1% do PIB todos os anos para pagar as autoestradas, os hospitais, e as restantes grandes obras públicas inauguradas por este Governo. Não tenho dúvidas que este é um dos maiores atentados geracionais de nossa história recente.”
Ora é caso para dizer que façam os cidadãos como eu digo e não como eu faço: gastar agora à grande e pagar depois (nós, claro!). Até porque o nosso (des)governo sabe que daqui a 30 anos já cá não estará (lagarto, lagarto, lagarto) e, quem vier a seguir que (des)governe como puder, que o povo lá há-de arranjar maneira de pagar.
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