sábado, 17 de julho de 2010

O meu Deus é cada vez mais o das pequenas coisas objectivas e naturais

(…) Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!
(…)
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e o sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar,
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
(…)
Alberto Caeiro, In O Guardador de Rebanhos (excertos)

Ou, como lê Arundhati Roy: "Para amar. Para ser amada. Para nunca esquecer a minha própria insignificância. Para nunca me acostumar à violência indescritível e à disparidade vulgar da vida à minha volta. Para buscar alegria nos sítios mais tristes. Para buscar a beleza no seu esconderijo. Para nunca simplificar o que é complicado, ou complicar o que é simples. Para respeitar a força, mas nunca o poder. Acima de tudo, para observar. Para tentar entender. Para não desviar o olhar. E nunca, nunca esquecer." (trad. pessoal) 

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