Quantas vezes são as pequenas palavras que mais contam, que mais marcam? Pequenas não pelo número de fonemas alinhados no seu corpo esguio, mas pela forma como se escapam pelos interstícios da consciência e da premeditação. Simplesmente saem e são ditas.
Quase sempre quem as diz não imagina o poder nelas contido, as formas misteriosas como elas eclodirão na alma de quem as ouve. Não percebe como elas enredarão sentimentos tantas vezes contraditórios, como elas convocarão memórias quase até à exaustão. Misturada tantas vezes com outras de que não fica qualquer memória, aquela é, justamente, a pequena palavra ou expressão que nunca mais esqueceremos, como se fosse um marco geodésico erguido na memória. Ainda que, tantas vezes, desejemos muito esquecê-la.
São as pequenas palavras que, tantas vezes, nos desapertam as maiores emoções, desatam as grandes alegrias ou nos abrem as feridas mais profundas no coração. E, tantas vezes, quem as pronuncia não sabe que aquelas pequenas palavras serão tudo o que restará no fim. Tudo o que ficará até para lá do fim de tudo.
Tenho ao longo da vida compilado um extenso glossário de pequenas palavras que me assaltam tantas vezes o pensamento. Demasiadas, talvez. Muitas gostaria de nunca as ter escutado. A algumas gostaria de conseguir esquecê-las. A outras, espero que nunca me abandonem.
... espero nunca me desiludir contigo ....
... sinto-me mal ...
... amiga ...
... sinto-me mal ...
... amiga ...
... pensava que eras inteligente, mas afinal ...
... professorinha ...
... sei que eras capaz de me trair ...
... às vezes não te reconheço ...
... gosto de si ...
... Mãe! ..
...
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