Convidado por Ana Sousa Dias a dizer o que sabe sobre as mulheres, André Gago (46 anos, actor e encenador) escreveu: “As mulheres são lindas, monstruosas, tórridas, frias, gloriosas, miseráveis, pequenas, desmedidas, feias, bonitas, feias-bonitas, magnânimas, parciais tolerantes, implacáveis, incompreensíveis, claríssimas, perversas, cândidas, femininas, maria-rapaz, curiosas, indiferentes, meigas, cruéis, maternais, madrastas, gordas, magras, inteligentes, desentendidas, pulposas, torneadas, espampanantes, discretas, leais, pérfidas, grutas inexpugnáveis, vulcões flamejantes, rocha inquebrantável, seda coleante, rubras, plúmbeas, fáceis, difíceis, gostosas, acrimoniosas, inteligentíssimas, burríssimas, espertíssimas, sonsas, charmosíssimas, banalíssimas, queridíssimas, detestabilíssimas, castas, impudentes, reservadas, inconfidentes, férteis, estéreis, indomáveis, submissas, descartáveis, imprescindíveis, divertidas, chatas, triunfantes, frustradas, cheias de curvas, cheias de rectas, impenetráveis, totalmente abertas, incalculáveis, calculistas, selectivas, indecisas, demoradas, rápidas, suculentas, frugais, vistosas, lineares, insatisfeitas, fastidiosas, autênticas, fingidas, inconformadas, conformistas, ruidosas, moderadas, poderosas, fragilíssimas, rocha coleante, seda inquebrantável...
O que eu sei sobre as mulheres? Sei que, se escolher metade destes qualificativos, por muito disparatados e por mais estereotipados que pareçam ser, esboçarei, ainda assim, um perfil que corresponderá a um ideal de mulher.
Ou seja: sei muito pouco.”
(In Pública, 17/4/2011)
Reconheço(-me) até certo ponto (n)esta galáxia contraditória e complexa. Mas não por ser mulher e sim por ser pessoa. Isto, embora tenha gostado da admissão, por parte do autor, de que sabe “muito pouco” sobre as mulheres, o que, numa sociedade machista como a nossa, é de “homem”. E embora este chavão do “mistério feminino” também já tenha conhecido melhores dias e seja muitas vezes uma desculpa de mau pagador, não deixa de ser verdade que, provavelmente, a consciência dessa limitação é um bom ponto de partida para conseguir entender que, afinal, o “mistério feminino”, não é assim tão obscuro quanto isso.
É que não há "o" mistério da mulher. Há, isso sim, o mistério do outro, seja ele homem ou mulher. Já agora, pergunto: e os homens não serão também assim, cheios de meandros, autênticas galáxias de contradições, tal como as mulheres?
(Contudo, às vezes, ao observar tamanha previsibilidade masculina no mundo à minha volta, interrogo-me: mas que raio terá acontecido ao mistério masculino?...)
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