quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Palimpsesto

Escrever num blogue,  como escrever em qualquer outro suporte, requer que se encontrem as palavras certas. E isso é, quase sempre, o mais difícil. Há o que pensamos e o que queremos dizer e depois há o que realmente escrevemos: às vezes as palavras no papel parecem ser apenas a sombra daquilo que queríamos realmente dizer. No meio há as palavras que se escrevem, que se riscam ou rejeitam e as outras que vão para o lugar dessas e as frases que se ajeitam, acrescentam ou mudam de sítio. 

Claro que, se alguém vier a ler o que redigimos, há ainda que ter em conta a forma como os outros o vão ler e interpretar. Chegados a este ponto, tudo está já muito distante em relação ao pensamento-matriz inicial: parece até que não fomos nós que escrevemos.

No entanto, nesse texto final está tudo: o que é vísivel e o que é apenas subliminar, as ideias, as tentativas de aproximação através das palavras, as rasuras, as correcções, a depuração da escrita. Todos os textos, nem que seja uma simples lista de supermercado, no fundo, são palimpsestos do nosso próprio mundo interior. Nós é que só conseguimos ler o que fica visível a olho nu.

Talvez seja melhor assim.  Se tivéssemos a capacidade de ler também o que fica invisível então o mistério desapareceria do mundo e tudo ficaria mais monótono e enfadonho.

"Subtext (Tales of mere existence)", uma curta metragem de 2006, realizada por Lev, tem como argumento de partida esta mesma ideia: o que queremos realmente dizer quando escrevemos (neste caso, um e-mail)? 


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