segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Repetições

É impossível não reparar que as pessoas, a partir de uma certa idade, têm tendência para repetir as histórias, as ideias, os conceitos... Às vezes, sem se aperceberem, repetem-nas às mesmas pessoas, em ocasiões diversas, o que provoca também diferentes reacções nos ouvintes: dos que ouvem pacientemente e sem dizer nada porque pensam "coitado, está senil", aos que interrompem logo em tom impaciente com um "é pá, já contaste essa história trinta vezes".

Chico Buarque, a páginas 114 e 212, do seu livro "Leite Derramado" explica de uma forma tão bonita quanto poética que: Se com a idade a gente dá para repetir casos antigos, palavra por palavra, não é por cansaço da alma, é por esmero. É para si próprio que um velho repete sempre a mesma história, como se assim tirasse cópias dela, para a hipótese de a história se extraviar. (...) é porque certas histórias não param de acontecer em nós até o fim da vida.

O bom mesmo é chegar à velhice e ter histórias interessantes, bonitas ou divertidas para repetir. Essas, os ouvintes guardarão na memória e, por sua vez, repetirão a outros. Infelizmente estes "repetidores de histórias" são cada vez mais raros. A maioria chega ao fim da vida e só tem amarguras e desenganos para contar, o que é bem triste.

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