quarta-feira, 18 de maio de 2011

Fragmentária - III

Desamor

Nunca o nosso amor coube num poema, pois parecia transbordar sempre os limites da estrofe por mais solta que fosse a rima dos versos. Parecia sempre ser maior do que o próprio poema (embora coubesse perfeitamente no espaço apertado das nossas duas mãos enlaçadas).

Mas as nossas mãos já não estão enlaçadas e não há poesia que consiga (re)avivar a chama duvidosa que foi enfraquecendo com o tempo. Até a memória da textura quente da tua mão na palma da minha mão começou a desvanecer-se. E, agora que a distância entre nós parece ser infinita, verifico que o desamor, esse, cabe todo em escassas linhas de texto e ainda sobra espaço para a ironia de concluir que o problema do nosso (des)amor nunca foi a forma e sim o conteúdo do poema.

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