domingo, 15 de maio de 2011

Questão de género ou de sem-vergonha?

Os noticiários abriram hoje com a notícia de que Mr. Strauss-Kahn - actual director-geral do FMI e mais que previsível candidato à presidência francesa - foi preso no aeroporto de Nova Iorque por causa de uma queixa de assédio sexual/tentativa de violação apresentada por uma empregada da limpeza do hotel onde estava comodamente instalado.

Logo a própria natureza do fait-divers em que se vê envolvido, para mais sendo casado com uma figura altamente mediática em França, a jornalista Anne Sinclair, diz bem da verdadeira natureza do homem, a qual, aliás, se pode sintetizar de forma apropriada na figura que se segue:


Todas as personalidades que, de imediato, foram convocadas a comentar o caso foram lacónicas, alegando a necessidade de prudência, reforçando a ideia da presunção de inocência até prova em contrário, a necessidade de deixar trabalhar a justiça, a necessária separação entre as públicas virtudes da criatura e os seus vícios privados, blá-blá-blá. Nada de novo nesta argumentação, aliás característica tratando-se de um homem, ainda para mais todo-poderoso e influente. Não deixa de ser curioso que na própria blogosfera alguém - por acaso (?) também ele homem - afirmou mesmo, num certo tom paternalista e pleno de insinuações, mascarado de conveniente ironia, como convém, antes de passar ao assunto/post seguinte: "O maroto!" (ver aqui).

Fosse uma mulher que estivesse em causa numa situação semelhante e outro seria o tom - para já falar dos próprios comentários: seria referida em tom de «cabra traidora» com um sorrisinho cínico, enquanto muitos estariam a pensar na melhor forma de também tomarem parte no festim. Afinal, à boa maneira portuga, melhor que uma conversa de cornos (verdadeiros ou não), só mesmo um bom par de cornos postos em alguém... E a melhor prova disto está na forma bem distinta como foi tratado na imprensa e na blogosfera o caso de Iris Robinson.

Mas voltando a Mr. Strauss-Kahn. Ficou claro que, além de ter o cérebro entre as pernas - este não é sequer o primeiro caso do género em que se vê envolvido - tem ainda uma outra característica: acha que as mulheres são como documenta a seguinte imagem.

 Ao que tudo indica:
1) o homem sofre do complexo de macho de cobrição e tudo quanto é fêmea que lhe passe ao alcance da vista está garantida (quer queira, quer não);

2) o homem, coitado, ainda não percebeu que os tempos mudaram um bocadinho e que a relação homem-mulher, embora não tenha evoluído tanto quanto deveria, já não está exactamente igual ao que era há umas décadas atrás, quando as mulheres se sujeitavam a ser tratadas como meros objectos e não como pessoas de pleno direito, apenas porque não tinham meios económicos para se sustentarem;

3) o director do FMI acha-se tão importante e tão poderoso qur pensa que pode tratar os outros abaixo de cão. Assim, uma criada de hotel é isso mesmo e, sejamos claros, para todo o serviço. Também o facto de estar numa suite de 2 mil euros/noite deve reforçar essa ideia de que bem lhe podem satisfazer todos os caprichos;

4) enquanto director do FMI o senhor devia achar que era intocável e que ninguém se atreveria a chamar a polícia para tratar do assunto;

5) ainda como director do FMI o homem deve ter confundido aquilo que o próprio FMI anda a fazer aos países a quem empresta dinheiro com a vida real e deve ter pensado que podia aplicar o "tratamento" indiscriminadamente e a seu bel-prazer.

PS -  O que eu sei é que a deslealdade e a traição não são exclusivo de um sexo ou de uma época em detrimento de outra. Infelizmente, gente desleal e sem vergonha é o que mais há em todas as épocas. A dificuldade é sempre a de conseguir separar o trigo do joio.

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