domingo, 15 de maio de 2011

Lixo é lixo é lixo

O que eu acho extraordinário neste documentário é que alguém - no caso a equipa de realizadores - queira fazer passar a ideia de que os desgraçados mais desgraçados de todos - aqueles que, para sobreviver, se vêem forçados a catar lixo num aterro maior que muitas das nossas cidades  - são, afinal, artistas e o trabalho que fazem - catar o lixo do outros - é uma forma radical de arte. Tudo isto a pretexto do trabalho  - meritório, refira-se - do artista plástico Vik Muniz. Méritos à parte, o pressuposto não é apenas hipócrita, é cínico.

Catar lixo, ainda que seja para depois fazer arte, que eu saiba, nunca foi nem nunca há-de ser uma espécie de método de auto-ajuda ou de salvação, menos ainda uma espécie de escada para ascender na pirâmide social. É que os desgraçados deste mundo, por mais arte que façam com o lixo que eles próprios catam a céu aberto, nunca passarão disso mesmo: de desgraçados. Aqui, julgo que dificilmente a arte pode fazer a diferença. Ainda que seja, como esta, extraordinária. O que poderia realmente fazer a diferença seria uma outra sociedade, na qual todas as pessoas tivessem o mínimo necessário para sobreviver com dignidade, sem precisarem catar a sua sobrevivência no lixo. Tudo o resto são boas intenções. E disso, dizem, até o inferno está cheio, quanto mais um simples documentário.

Decididamente, este Lixo Extraordinário não me convenceu lá muito, não.

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