Já aqui me tinha referido à forma como o fim de semana é, às vezes, uma lugar/tempo estranho: visto de longe, quando a semana ainda vai a meio parece conter a promessa de um oásis. E, no entanto, quantas vezes não chegamos ao domingo à noite - às vezes sem nos darmos bem conta do passar do tempo tal o número de tarefas que, entretanto, executámos - com a nítida sensação de que, afinal, não tomámos fôlego, nem sequer começámos a descontrair e já é novamente segunda-feira e é preciso recomeçar tudo de novo.
Um estudo britânico, feito no ano passado, veio esclarecer as minhas dúvidas sobre esta matéria, as quais, aliás, já não eram muitas: a maioria dos que trabalham só consegue 'desligar' efectivamente da profissão ao fim da manhã de sábado e, quando a tarde de domingo ainda vai a meio, já está novamente a pensar nas tarefas da semana. Isto significa que, na prática e para muita gente, o fim-de-semana apenas dura umas escassas 27 horas. E isto com sorte porque, dependendo da profissão, pode até passar-se uma boa parte do dito a trabalhar no duro para preparar a semana que há-de vir.
É o caso dos que, como eu, são professores e têm mesmo que aproveitar estes dois dias para corrigir testes e trabalhos e para prepararem as aulas da semana. Isto porque, durante a semana, o número de aulas, a que acrescem reuniões por tudo e por nada e trabalho não lectivo obrigatório (actividades de dinamização da escola, elaboração e acompanhamento de projecto educativo, regulamento interno, avaliação interna da escola, direcção de turma, coordenações diversas, etc, etc) não permitem que esse trabalho mais moroso e exigente se concretize em tempo útil. Assim, no meu caso pessoal, só consigo "desligar" verdadeiramente a partir do fim da tarde de sexta-feira até ao final desse serão. 'Desligo' a tal ponto que às dez da noite apago no sofá, literalmente. Isto porque metade, ou mesmo a quase totalidade do meu fim-de-semana, é, desde há algum tempo, dedicada a assuntos domésticos e familiares, e não propriamente à descontracção. É também por isso que, desde há algum tempo, a única coisa que sinto no domingo à noite é cansaço e ainda tenho sempre que aproveitar o final de tarde e o serão para preparar aulas.
É o caso dos que, como eu, são professores e têm mesmo que aproveitar estes dois dias para corrigir testes e trabalhos e para prepararem as aulas da semana. Isto porque, durante a semana, o número de aulas, a que acrescem reuniões por tudo e por nada e trabalho não lectivo obrigatório (actividades de dinamização da escola, elaboração e acompanhamento de projecto educativo, regulamento interno, avaliação interna da escola, direcção de turma, coordenações diversas, etc, etc) não permitem que esse trabalho mais moroso e exigente se concretize em tempo útil. Assim, no meu caso pessoal, só consigo "desligar" verdadeiramente a partir do fim da tarde de sexta-feira até ao final desse serão. 'Desligo' a tal ponto que às dez da noite apago no sofá, literalmente. Isto porque metade, ou mesmo a quase totalidade do meu fim-de-semana, é, desde há algum tempo, dedicada a assuntos domésticos e familiares, e não propriamente à descontracção. É também por isso que, desde há algum tempo, a única coisa que sinto no domingo à noite é cansaço e ainda tenho sempre que aproveitar o final de tarde e o serão para preparar aulas.
Desta forma, e quase sem nos apercebermos, temos posto seriamente em causa aquela que foi uma das maiores e mais duras conquistas do século XX - em Portugal, só conseguida na segunda metade do século. Com estes empregos que transbordam dos dias úteis e nos atormentam o espírito durante a pausa semanal estamos, claramente, a regredir em termos de direitos do trabalho. E a médio prazo esta imersão permanente no trabalho tem custos elevados em termos de saúde - física e, sobretudo mental - e em termos sociais e familiares. Muita gente está até permanentemente ligada ao local de trabalho por intermédio de portáteis ou telemóveis de serviço, fornecidos pela próprias empresas. Estar sempre 'on' em termos laborais (para muitos uma certa versão de estar 'in') pode contribuir para uma severa diminuição da qualidade de vida das pessoas e há vários estudos que o comprovam. Luís Graça, sociólogo do trabalho, diz mesmo que "O trabalho, por um lado, foi fortemente intelectualizado, mesmo nas fábricas, devido à automatização. É fisicamente mais leve, mas mentalmente mais cansativo. As pessoas já não são esmagadas pelas máquinas, mas há novos problemas. O trabalho é uma coisa que nos persegue e que em alguns casos causa grande sofrimento." (in DN, 28/11/2010, itálico meu)
Dá que pensar tudo isto logo agora que Portugal está sob resgate dos donos do dinheiro (FMI e BCE) e que a chanceler Angela Merkel anda a dizer por aí que "Não podemos ter a mesmo moeda e uns terem muitas férias e outros poucas", ou que "Em países como a Grécia, Espanha e Portugal, as pessoas não devem poder ir para a reforma mais cedo do que na Alemanha". Só uma coisa me preocupa: será que a senhora Merkel pensa mesmo assim, ou apenas tem andado a ouvir a conversa fiada dos nossos (des)governantes que andam lá fora a dar uma imagem cor-de-rosa do que se passa no país. Pelos vistos tão cor-de-rosa, que a senhora anda a dizer barbaridades aí pela europa fora. E já agora, alguém faça o favor de a esclarecer para evitar que tenha estes lapsus linguae que tão mal ficam a quem, ainda por cima, pretende ser a patroa da europa e arredores. Talvez fosse melhor que, quando falasse sobre os seus 'subordinados' soubesse, pelo menos, o que estava a dizer. Ganhava logo outra credibilidade. Pela parte que me toca, declaro já que concordo e subscrevo tais declarações se, e apenas se, em Portugal, me forem dadas condições de vida idênticas às dos alemães, ordenado incluído. Coisa que me parece, aliás, ser da mais elementar justiça até porque, lá por ser portuguesa, não trabalho de certeza menos do que qualquer alemão, nem em termos de quantidade, nem de qualidade.
Em suma, cada vez mais o (a)típico fim-de-semana de muitos portugueses como eu pode representar-se graficamente assim.
Dá que pensar tudo isto logo agora que Portugal está sob resgate dos donos do dinheiro (FMI e BCE) e que a chanceler Angela Merkel anda a dizer por aí que "Não podemos ter a mesmo moeda e uns terem muitas férias e outros poucas", ou que "Em países como a Grécia, Espanha e Portugal, as pessoas não devem poder ir para a reforma mais cedo do que na Alemanha". Só uma coisa me preocupa: será que a senhora Merkel pensa mesmo assim, ou apenas tem andado a ouvir a conversa fiada dos nossos (des)governantes que andam lá fora a dar uma imagem cor-de-rosa do que se passa no país. Pelos vistos tão cor-de-rosa, que a senhora anda a dizer barbaridades aí pela europa fora. E já agora, alguém faça o favor de a esclarecer para evitar que tenha estes lapsus linguae que tão mal ficam a quem, ainda por cima, pretende ser a patroa da europa e arredores. Talvez fosse melhor que, quando falasse sobre os seus 'subordinados' soubesse, pelo menos, o que estava a dizer. Ganhava logo outra credibilidade. Pela parte que me toca, declaro já que concordo e subscrevo tais declarações se, e apenas se, em Portugal, me forem dadas condições de vida idênticas às dos alemães, ordenado incluído. Coisa que me parece, aliás, ser da mais elementar justiça até porque, lá por ser portuguesa, não trabalho de certeza menos do que qualquer alemão, nem em termos de quantidade, nem de qualidade.
Em suma, cada vez mais o (a)típico fim-de-semana de muitos portugueses como eu pode representar-se graficamente assim.
Nota: Claro que, quando o FMI assentar arraiais no país, vai haver logo um corte na variável "quando se tem dinheiro". Ficarão apenas as outras duas o que, na prática, também não causará grande transtorno à maioria de nós. Afinal, já estamos habituados.
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