Agora que a campanha eleitoral entrou na sua recta final e, por isso, está quase em apoteose, aqui fica uma excelente receita que pode ser servida nos almoços e jantares que se desmultiplicam incansavelmente de norte a sul do país. Até porque, de barriga vazia está o povo farto e, por isso, campanha à portuguesa faz-se sobretudo à mesa. Não só rima como é verdade. Ora então cá vai a receitinha, mesmo a tempo das derradeiras iniciativas com que os partidos contam angariar os últimos e decisivos votos que possam fazer deles os vencedores do dia 5, mesmo contra ventos e marés, isto é, sondagens e previsões. Claro está que é uma 'receita de autor':
Receita para cozinhar arroz de povo à portuguesa
Esta receita, simples de preparar, foi-me gentilmente cedida por um candidato a deputado em posição elegível. É uma forma fácil e segura de cozinhar o povo, um molusco tão procurado em tempo de campanha eleitoral, muitas vezes incompreendido, devido ao líquido escuro que guarda na bolsa do ferrado e que lança contra quem o persegue, dando mau gosto aos cozinhados. O ditado "É melhor o molho que a raia" aqui não se aplica, claro está, pois ficaria você ferrado com o pratinho estragado, rima e é verdade.
Prepara bem o povo, batendo até amolecê-lo; tenha o cuidado de verificar se o comprou bem morto, pois assim pode cortar o povo em pedaços sem que ele se queixe. Pique duas cebolas, dois dentes de alho e um ramo de salsa, para atenuar o gosto amargo que o povo deixa na boca de quem o come. Deite tudo num tacho, ou numa panela de pressão, que o povo, no estado em que está, não vai notar a diferença. Mexa metodicamente o povo para que não se agarre ao tacho que não lhe pertence. Deixe cozer suavemente, durante cerca de uma hora (ou 30 minutos na panela de pressão) até o povo estar macio. Regue com 2 dl de vinho tinto, que será o último vinho que bebe, e deixe-o cozer a bebedeira durante dez minutos. Meça o líquido resultante da cozedura do povo e carescente á gua, não vá o povo pensar que é dia de festa, de modo a ter o dobro do volume de 350 g de arroz de grão redondo, pois desta forma poderá o povo ser comido por mais pessoas.
Lave o arroz e introduza-o na panela com o povo. Tempere com sal e pimenta, que, para além de picado, o povo ficará também picante. Não exagere, contudo, nos temperos, pois demasiado picante, o povo torna-se indigesto. Polvilhe-o com ovo cozido picado e com salsa para que o povo fique mais apresentável. Sirva-se quente e devore-se o povo num jantar de comemoração de vitória eleitoral.
Sousa Rutra
Observ. - E fiquem todos descansados que eu, apesar de não ter o hábito de participar nesses tais almoços, jantares e outras sessões mais ou menos gastropolíticas, não me esquecerei de ir votar no próximo domingo, para dar o meu contributo pessoal para o pratinho de arroz de povo que há-de encher a barriguinha aos nossos esfomeados líderes políticos.
Observ. - E fiquem todos descansados que eu, apesar de não ter o hábito de participar nesses tais almoços, jantares e outras sessões mais ou menos gastropolíticas, não me esquecerei de ir votar no próximo domingo, para dar o meu contributo pessoal para o pratinho de arroz de povo que há-de encher a barriguinha aos nossos esfomeados líderes políticos.
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