Sobre o valor da Língua Portuguesa no mundo actual, a presidente do Instituto Camões, Ana Paula Laborinho, fez várias afirmações curiosas numa entrevista* recente.
À pergunta "Prevê-se que o português cresça a nível internacional nos próximos tempos?, respondeu o seguinte: "Exactamente. Quando falamos da economia das línguas, também falamos da afirmação das economias nessa língua e, olhando para o mundo, o facto de países como o Brasil ou Angola estarem em crescimento afirma a língua. Há uma relação entre línguas e economias. Um dos exemplos é a própria China. Em 2002, quando deixei Macau, havia na China três universidades onde se ensinava português e neste momento há 17."
Depois, explica de forma mais detalhada esta ideia: "Precisamente por causa da economia e do interesse que eles têm nas relações económicas quer com o Brasil quer com Angola. Estamos a falar em dois fenómenos: o dos países que falam as línguas e o da expansão e da sua divulgação como língua estrangeira, que se faz muito por via do interesse que as economias desses países têm em termos internacionais."
Uma nova questão permite clarificar mais ainda esta estreita ligação entre a língua e a economia: "Ao nível da procura no estrangeiro, o português está ao nível de que outras línguas?"
"Há uma grande procura na China, na América Latina, em África e, no caso da Europa, nos países de Leste. A procura do português é hoje, muito claramente, maior que a de algumas das línguas tradicionais como o francês e o alemão. Não será tão grande na Europa como é noutras regiões. A língua portuguesa não tem na Europa o espaço que lhe é devido. A Europa tende a considerar as línguas em função da população europeia. A língua portuguesa não vale apenas 10 milhões."
Em vésperas do Dia da Língua, vale a pena reflectir sobre a cinzenta realidade da língua portuguesa no seu território de origem: Portugal. É que, como a própria presidente do Instituto Camões muito bem explica, o crescimento linguístico a nível global é consequência directa do desenvolvimento económico de dois grandes países irmãos: Angola e Brasil. E também dos cada vez maiores investimentos e interesses económicos da China nesses dois territórios lusófonos.
De lamentar é que Portugal não capitalize nada disto, nem em termos de desenvolvimento económico, nem em termos de promoção da aprendizagem da língua portuguesa não materna, a qual é, aliás, da responsabilidade do Instituto Camões. Nunca Portugal liderou nada disto. Quando muito, foi-lhe permitido ser mediador preferencial em diversas entidades internacionais devido ao facto de ser o país de origem da própria língua. No fundo, apenas por cortesia dos tais países-irmãos.
E se não o fizemos antes, em tempos de subsídios abundantes e de generosos programas europeus de financiamento, muito menos o faremos agora em tempos de recessão económica, de crise social e de dificuldades financeiras que obrigarão a cortes brutais no financiamento, nomeadamente do próprio Instituto Camões. Resta-nos, pois, esperar com paciência que essa cortesia se estenda também à vontade de ajudar a nossa debilitada economia fazendo alguns investimentos em território nacional.
Mas claro, sobre tudo isto cairá amanhã um conveniente silêncio... Afinal é dia de desfiles, discursos e medalhas e não se pode estragar a festa... nem o povo ia ficar contente
* In Pública, 5/6/2011
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